Through a Glass, Darkly (1/12)

Resumo: Versão alternativa do episódio Pandora.
Autoras: chloeas e dl_greenarrow
Classificação: R
Original

Anterior: Prólogo

Ele acordou num beco.

Suas roupas estavam sujas, rasgadas, manchadas de sangue.

Ele estava tão frio como se de alguma forma tivesse acordado da morte.

Tremendo, lentamente ele se sentou, os músculos doendo mesmo em apenas olhar para cima. Para o sol amarelo. Um suspiro de dor lhe escapou e ele tremeu novamente, se obrigando a ficar em pé. Demorou um longo tempo para orientar-se, e quando finalmente conseguiu, percebeu que estava do lado de fora da Watchtower. Engolindo em seco, ele olhou para baixo, para o anel firmemente preso em sua mão.

Cada passo dado em direção ao conhecido edifício era repleto de lembranças.

E dor.

Oliver tropeçou para dentro do elevador, caindo contra a parede e fechando os olhos enquanto esperava.

Chloe ouviu o elevador e esperou, esperou que alguém entrasse na Watchtower, mas ninguém entrou, silenciosamente ela pegou sua arma e foi até o hall, seu coração batendo rápido contra o peito enquanto se aproximava do elevador.

A primeira coisa que ela viu foram pernas, seus olhos se arregalaram quando percebeu que o tecido da calça não estava apenas rasgado, mas coberto de sangue, então ela se aproximou mais rápido, seu coração dando um pulo quando viu Oliver, ela entrou no elevador, se ajoelhou ao lado dele, ele estava ferido. Muito ferido.

"Oliver, você está me ouvindo?" Os olhos dele estavam fechados, ela não o via desde o funeral de Jimmy e não fazia ideia de por onde ele tinha andado ou em que tipo de problema ele havia se envolvido. Sem esperar por uma resposta, ela deixou a arma no chão e o puxou pelos braços com cuidado para tirá-lo de lá.

Um gemido de dor lhe escapou e sem pensar em nada ele apertou seus braços ao redor dela. "Chloe", ele murmurou.

Os olhos dela se arregalaram diante da reação dele, apesar de estar ferido, ele ainda era forte, então quando ele a abraçou, ela não teve escolha a não ser se inclinar sobre ele. "Está tudo bem, estou com você." Ela, desajeitadamente, passou um braço ao redor dele e o observou tão bem quanto pôde. Ele devia ter batido bem forte a cabeça entre outros ferimentos.

Ele estremeceu enquanto ela de alguma forma conseguia ajudá-lo a se levantar mais uma vez e ele se apoiou nela enquanto era guiado através da sala para o sofá, onde ele desabou. Seus olhos se abriram e fecharam algumas vezes enquanto tentava respirar. Sentia uma dor aguda e cortante em suas entranhas e ele engolia em seco, tossindo enquanto estendia a mão e tentava descobrir porque estava doendo tanto.

Até que sua mão começasse a se mexer, ela não havia visto a ferida em seu abdômen, jorrando sangue dali. "Não se mexa." Ela falou antes de correr até o telefone e chamar Dr. Hamilton, voltando para o lado dele segundos depois, pressionando levemente uma toalha sobre a ferida para estancar o sangramento.

"Dr. Hamilton está vindo, você vai ficar bem, só continue comigo."

A dor que explodiu com a pressão da toalha fez ele arquear as costas, um assobio lhe escapando. "Cristo."

"Sinto muito, mas precisamos parar o sangramento." Ela falou, imaginando o que poderia ter acontecido de tão ruim para que ele fosse atacado dessa maneira, ela não fazia ideia de onde Oliver esteve esse tempo todo, tentou encontrá-lo mesmo não tendo conseguido encontrar Lois, mas não havia conseguido, tudo o que sabia era que ele havia retirado uma grande quantia de dinheiro e estava vivendo com ele, claramente, evitando ser encontrado.

"Eu sinto muito", ele sussurrou cansado, abrindo os olhos tempo suficiente para vê-la, mesmo enquanto a consciência começava a abandoná-lo. " Eu sinto muito."

Assustada, ela balançou a cabeça, se ajoelhando perto do sofá. "Está tudo bem, Oliver, seja lá o que for, está tudo bem, você vai ficar bem, não há nada para se desculpar, vai ficar tudo bem."

Ele não ficaria bem. Mas isso não importava. A única coisa que importava era a missão que ele tinha.

Salvar a vida dela.

E com esse pensamento, seus olhos se fecharam enquanto a escuridão tomava conta dele.

***

Dr. Hamilton havia ido embora há uma hora atrás e mesmo tendo garantido a Chloe que Oliver ficaria bem, ela continuava preocupada, ele havia perdido muito sangue e os ferimentos estavam por todo seu corpo, sem mencionar o fato de que, seja qual fosse a razão, ela havia encontrado o anel da Legião em sua mão, ele estava segurando tão forte que sua pele havia sido perfeitamente marcada.

Ela só conseguiu relaxar um pouco quando ouviu ele gemer enquanto acordava, isso era um bom começo.

Tudo estava vermelho. Tudo estava sempre vermelho, mas dessa vez havia vermelho por toda sua mão, manchando seu uniforme. E tudo doía, seu coração principalmente, enquanto ele lutava para se manter consciente. Seu peito estava apertado, repleto de dor, medo, perda. "Não." Ele murmurou, tentando abrir os olhos.

"Oliver?" Ela o chamou baixinho, se ajoelhando ao lado do sofá mais uma vez. "Está tudo bem, você vai ficar bem."

Seu coração pulou ao ouviu a voz dela. A voz dela. Ele se acalmou quase instantaneamente. Ela estava bem. Tudo havia sido só um pesadelo. Um leve sorriso tocou seus lábios. "Chloe."

"Não tente se mexer, você precisou de pontos." A voz dela era tranquila enquanto olhava pra ele, parecia que ele havia entrado em uma briga e fora esfaqueado, e por sorte, não foi um ferimento fatal.

Seus olhos castanhos franziram ao ouvir aquilo. "Pontos?" ele murmurou confuso. Ele se esforçou para abrir os olhos e quando ele conseguiu, ele piscou rapidamente, tentando clarear a visão. Só levou um momento para ele perceber que estava na Watchtower. "Nós conseguimos."

Chloe observou enquanto ele olhava ao redor e foi a vez dela ficar confusa. "Nós conseguimos?"

Apesar de toda a dor que ele sentia, a confusão no olhar dela era clara, e novamente ele sentiu um aperto no peito. Ele prendeu a respiração quando a percepção da realidade o atingiu com a força de um caminhão, e lágrimas saltaram de seus olhos. Ele os fechou rapidamente, apertando uma mão no rosto enquanto era totalmente engolido pela dor.

Ela arregalou os olhos quando pensou ter visto lágrimas nos olhos dele e ficou de repente mais preocupada que antes, se inclinando sobre ele, ela colocou uma mão cuidadosamente em seu braço. "Oliver, seja lá o que for, vai ficar tudo bem."

Ele se forçou a respirar fundo, ainda que a respiração estivesse irregular. Ele pressionou a mão livre sobre o local que doía, e fez uma careta enquanto se sentava. Ele abriu os olhos, uma única lágrima corria pelo seu rosto sujo.

Franzindo a testa, ela o observou, obviamente ele não atendeu seu pedido para não se mexer, era o Oliver afinal de contas. Mas alguma coisa parecia muito errada se ele estava, de fato, chorando.

Cuidadosamente, ela se sentou ao lado dele, fazendo o possível para não mexer muito o sofá. "Oliver, o que aconteceu?", sua voz era calma.

Ele virou a cabeça pra olhar pra ela, com um olhar intenso. Resoluto. "Eu preciso da sua ajuda."

"O que você precisa?"

Ele prendeu a respiração e expirou lentamente. "Eu preciso que você me ajude a salvar sua vida."

Com os olhos ainda mais arregalados, se é que era possível, ela simplesmente o encarou por um longo momento, ela o teria questionado se não fosse pela reação que ele estava tendo e o fato de que ele realmente parecia sentir muita dor, uma dor que não era apenas física.

"Do que você está falando?" ela perguntou o mais serenamente que conseguiu.

"Eu não sou o seu Oliver", ele falou baixinho. Mas era uma mentira, não era? Ele era o Oliver dela. Ela só não sabia ainda. Talvez nunca viesse a saber. Mas isso não importava. A única coisa que importava era mantê-la viva.

"Meu Oliver?" Ela repetiu, confusa. "O que você está querendo dizer? Eu não te vejo faz algum tempo, tentei te encontrar, mas você sumiu então não consegui te localizar."

Ele balançou a cabeça um pouco, e se virou de frente pra ela. "Eu não sou o Oliver que você conhece. Eu não sou deste tempo, Chloe." Ele ficou em silêncio por um momento, procurando os olhos dela.

Ao ouvir essas palavras, tudo se encaixou, o anel da Legião, ele não ser o Oliver 'dela'. "De onde você é?" ela perguntou.

"Em que ano estamos?" ele perguntou cansado, esfregando a mão na nuca. Ele tinha perdido a noção do tempo nos últimos meses, porque diante de tudo o que estava acontecendo, o tempo não importava. Só importava sobreviver.

"Outubro de 2009."

Ele respirou fundo. Apenas alguns meses depois da morte de Jimmy Olsen. Quando toda a bagunça havia começado. "2010", ele respondeu. "Um ano a partir de agora."

Chloe o observou por um momento, seja lá o que aconteceu daqui a um ano, não era bom, Oliver não estava apenas extremamente ferido, mas no geral, ele não se parecia com o Oliver que ela conhecia, estava mais magro, parecia cansado, mais velho. "Você foi ferido no futuro?"

Se era possível ser ferido e ajudado ao ver uma pessoa, era exatamente como ele estava se sentindo olhando para Chloe naquele momento. Ela estava diferente de como ele se lembrava dela. Nos últimos meses ele havia tentado se lembrar de como ela era antes, antes do mundo se tornar um inferno, mas ele não conseguia. E agora ali estava ela, a pessoa que ele tentava se lembrar há tanto tempo. Era chocante. Mas ao mesmo tempo lhe enchia de esperança, independente do quanto doesse olhar pra ela. "Pode-se dizer que sim." Se ter o coração metaforicamente arrancado do peito possa ser considerado um ferimento.

"E o que aconteceu?" Ela sentia que não era uma pergunta que ele iria responder.

Ele desviou o olhar dela, descansando uma mão sobre o estômago e olhando ao redor da Watchtower. Tudo era tão familiar, mas tão diferente ao mesmo tempo. Ou talvez era tudo coisa da cabeça dele. "Não importa. Porque eu vou impedir que aconteça." Sua voz era tranquila, mas determinada. "Onde está o Clark?"

Bem, a pergunta que ele fez não era exatamente de fácil resposta, ela se mexeu desconfortável no sofá. "Ele não está aqui."

"Ele foi embora? Desapareceu?" Ele perguntou, olhando novamente para ela.

"Ele está fazendo o que acha que é melhor." Ela falou, olhando de lado para ele. "Ele continua ajudando as pessoas, mas de acordo com ele mesmo, ele não é mais o Clark, somente o Borrão." E por mais que odiasse admitir, e doesse inclusive pensar sobre isso, ela não sabia se Clark algum dia voltaria a ser como antes, mas por agora, parecia que não.

"Então eu preciso encontrá-lo. Você pode me ajudar?"

"Eu te ajudo", ela respondeu. "Mas não espere que eu vá me envolver sem saber de nada, Oliver, preciso saber o que está acontecendo."

Ela soou tão parecida com sua Chloe naquele momento que ele quase perdeu o ar. Estava tão acostumado a tê-la no comando, tomando a frente, ele já nem sabia mais como fazer isso sozinho. Ele prendeu a respiração e expirou lentamente, assentindo com a cabeça. "Eu vou contar tudo o que você precisa saber." E as coisas que ela não precisava saber - ele não teria que contar.

Não era preciso ser um gênio para entender o que ele quis dizer com aquilo, mas ela não iria pressioná-lo agora, não enquanto o que ele escolhesse contar fosse realmente importante.

"Por onde começamos?", ela perguntou e se sentou, olhando para ele.

"Encontramos Clark. E nos reunimos a ele e Lois."

Nesse momento, ela sentiu seu peito apertar. Balançando a cabeça, ele desviou o olhar dele pela primeira fez desde que havia se sentado. "Lois está desaparecida, Oliver."

"Não está mais", ele disse, balançando a cabeça também. "Eu a trouxe de volta comigo."

Depois de observá-lo por um momento, ela se levantou, tentando processar a informação que ele havia lhe dado. Durante todo o tempo em que procurou por Lois, sabia que ela estava viva, só não sabia como ou onde, mas algo lhe dizia que ela estava bem.

"Lois estava no futuro?" Ela perguntou cuidadosamente, não se permitindo uma reação exagerada. "E você a trouxe de volta mas..." Fazendo uma pequena pausa, ela franziu a testa e parou de frente pra ele. "Onde ela está?"

Ele parou pra pensar. "Eu não sei. Mas ela definitivamente estava comigo quando eu fiz a viagem de volta. Ela apareceu lá há uns dias atrás. Ela estava com o anel."

Com olhos arregalados, ela concordou com a cabeça, imóvel por um momento antes de se virar e caminhar em direção aos computadores. "Precisamos encontrá-la." Olhando para ele por sobre o ombro, ela franziu a testa. "Ela estava ferida?"

"Ela estava bem", ele respondeu, sem olhar em seus olhos. Ele estava aliviado por Lois estar viva, e feliz por ela não estar ferida, com certeza. Mas parte dele ressentia-se de saber que ela havia sobrevivido quando...

Oliver balançou a cabeça, não se permitindo esse pensamento. "Ela estava bem", ele repetiu, com os olhos distantes.

Chloe o observou por um segundo, tentando identificar as diferentes emoções que estavam em seu rosto mas apenas concordou, voltando-se para a tela. "Vou checar os hospitais de qualquer forma, só por precaução. Se ela não estiver, eu posso tentar a fazenda e o Talon."

Ele estremeceu involuntariamente ao ouvir sobre a fazenda. Suas últimas lembranças de lá eram de uma prisão para humanos escravizados. "Ok", ele sussurrou, passando uma mão no rosto.

Ela não havia nem terminado de digitar as informações sobre sua prima quando o telefone tocou, rapidamente ela atendeu e respondeu. "Sim, é ela." Ficou imóvel enquanto a mulher falava e seu coração começava a bater mais forte. "Ela está bem? Ok. Estou indo agora."

Com os olhos arregalados, ela se virou para Oliver. "Lois está no Hospital Geral de Metrópolis, eu preciso ir buscá-la."

Oliver assentiu levemente, encontrando os olhos dela por um momento. "Tudo bem. Pode ir. Eu vou... eu vou tentar encontrar o Clark."

Franzindo a testa, ela olhou pra ele. "Fique aqui, você não pode ficar andando, seu corte é muito profundo." Enquanto falava ela foi pegando suas coisas. "Eu volto o mais rápido possível."

Ele a viu sair, e por mais que seu instinto fosse de fazer o que ela pediu, ele não podia. Não havia tempo. Havia muito trabalho a ser feito."

Não importa o que acontecesse com ele nesse longo caminho.

Porque, de qualquer forma, ele não fazia parte desse mundo.

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Capítulo 2

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