17.8.10

Seven Stages

Título: Sete Estágios
Resumo: Depois de sofrer uma perda do pior tipo, Oliver Queen enfrenta os sete estágios do luto.
Autora: sarcastic_fina
Classificação: PG-13
Categoria: Angst/Tragédia/Romance




I-Choque

As vozes, elas desaparecem. Suas explicações, suas pesarosas desculpas.

Ele está sentado em uma sala de hospital, as mãos nos joelhos, e o peito arde com as batidas de seu coração. Há um zumbido em seus ouvidos, sua boca está seca, ele não consegue piscar, não consegue respirar, não consegue se mover. Parece que alguém está tocando seu braço, perguntando se ele está bem.

Fizemos tudo o que pudemos.

Ele tenta balançar a cabeça, tenta se concentrar mas não consegue.

Ela perdeu muito sangue... Ela teve duas paradas...

Há perguntas, ele as sente na garganta. Mas sua língua, foi engolida; ele não consegue pronunciar as palavras, não consegue perguntar o que quer saber.

Por quê?

Por que ela?

Como?

Como aconteceu?

Então ele fica sentado e espera. Espera que seus pulmões parem de gritar por ar, que seu estômago pare de se contorcer. Espera que o queimor nos olhos pare porque ele não chora. Ele nunca chora. E ele não liga para o que eles dizem ou para o que aconteceu porque Oliver Queen não chora e Chloe Sullivan não morre.

Podem ter sido minutos, talvez horas.

E então ele está se movendo. Ele está andando. Ele está deixando o hospital e não está parando quando eles tentam alcançá-lo, tentam mantê-lo ali. Ele os afasta, os empurra. Ele nem vê quem é: uma enfermeira, um amigo, não importa. Porque agora ele está perambulando pelas ruas escuras e ninguém está vendo nada. Ele está só se movendo e secando aquelas lágrimas inexistentes. Seu rosto não está molhado e esse barulho, que perambula distante em seus ouvidos, também não são dele soluçando.

Há sangue em suas roupas. Dela. Estão encharcadas, ele sente na pele. Fria agora.

É uma longa caminhada do hospital até seu apartamento mas ele não pára. Nem para os sinais vermelhos nem para os carros, ele simplesmente continua andando. Até que de repente ele está em casa, em seu escuro apartamento arranha-céu com nada exceto o silêncio ao seu redor.

Ele não dorme, ele não come, ele não se move.

Pessoas vêm e vão, elas sentam e elas falam, e ele não as reconhece. Elas tentam fazê-lo se concentrar, tirá-lo desse estado, mas ele as ignora.

Porque em sua cabeça, nesse silêncio e nessa calma esmagadora, não há nada a temer, nada que possa machucar. Ele simplesmente existe.


II - Negação

Demora três dias para ele se levantar, se espreguiça, e o choque desvaneceu, foi-se. Ele vai até a cozinha e prepara duas xícaras de café, uma pra ele e uma pra ela. Ele não sabe onde ela está, ele não sabe porque ela não está ali. São só seis horas da manhã e ela não está na cama deles dormindo. O lado direito é dela, ele prefere ficar entre ela e qualquer porta. Uma precaução, segurança, ele tem que protegê-la de qualquer coisa que possa entrar.

Você está ficando paranoico, ela sempre diz pra ele.

Não, ele estava sendo cuidadoso.

Enquanto muitos podiam olhar pra ele e pensar que ele tinha muito, possibilidades ilimitadas, podia ter tudo o que queria nas mãos, só algumas coisas ele realmente queria, e ele as agarrava com toda força. Ela não era uma posse mas era a única pessoa no mundo pra quem ele daria tudo. Ela já tinha sua confiança, seu coração, seu corpo e não pedia por mais nada. E tudo o que ele pedia era que ela ficasse bem; que ela o deixasse cuidar dela.

Mas ela não estava aqui. Não estava na cozinha, lendo as notícias do mundo no computador, procurando por pistas ou enviando seus e-mails. Ela não estava em nenhum lugar do apartamento. Ele procurou no banheiro, ela não estava lá e o chuveiro não havia sido usado recentemente. Estranho, mas quando ele se olhou no espelho parecia sangue nas roupas dele. Isso não fazia sentido. Por que havia sangue?

Ele não consegue lembrar o que tem feito. Não consegue lembrar nada a não ser a última vez que a viu. Eles estavam caminhando, não estavam? Indo para o carro... Ela levava uns arquivos num braço que ela não deixou que ele carregasse.

Eu tenho dois braços perfeitos, muito obrigada!

O cavalheirismo ainda não morreu, Sidekick, mas você está ajudando a matá-lo, ele respondeu charmosamente.

Ela revirou os olhos pra ele, arrumou suas coisas no banco traseiro e então foi para a frente.

E então suas lembranças acabam; fica tudo branco.

Ele lembra de sorrir pra ela, dar a volta no carro e depois nada.

Ele liga para o celular dela, cai na secretária eletrônica.

Você ligou para Chloe Sullivan; se eu não atendi é por um destes três motivos... eu estou repleta de trabalho, eu fui sequestrada e preciso de ajuda, ou estou na cama com Ollie... Ei, uma garota pode se gabar! Ela ri levemente, docemente. Deixe sua mensagem ou venha logo me salvar!

Ele ri e sente uma dor no peito mas ignora. Ele deixa um recado. Onde você está? Me liga. Te amo. Tchau. E quando desliga ele coloca o café dela no microondas para esperar por ela enquanto ele bebe o seu. Ele lê sua parte do jornal, sobre ações e fusões, tudo relacionado ao trabalho, e então lê a parte dela. Ele gosta de saber o que ela sabe, o que ela tem pensado. Para depois discutir com ela sobre o que está acontecendo e se deveria ou não deveria acontecer.

Ele passa o dia inteiro em casa, espera por ela, não recebe a ligação de volta e começa a ficar preocupado.

Quando ele liga para Lois, ela suspira aliviada. "Você está em casa? Você está bem?"

Ele franze as sobrancelhas. "Você não tem identificador de chamadas?"

Ela pára. "Siiiim..." ela admite. "Ollie... por que você não ligou?"

Ele franze a testa. "Eu deveria? Até onde eu sei, não sou obrigado a 'ligar para Lois' diariamente."

Ela zomba. "Diariamente? Tente semanalmente, colega. Eu não falo com você desde..."

"Desde o quê?" ele pergunta, desnorteado.

Ela fica em silêncio e ele começa a se preocupar, a imaginar.

"O que está acontecendo?" ele pergunta, num tom sincero, desconfiado.

"Fique aí", ela murmura, de um jeito choroso. "Só... só fique aí, ok?"

E ele fica, porque são poucas as coisas nesse mundo que podem deixar Lois Lane triste.

Seu peito dói novamente, ele esfrega a mão. Acha que seu coração pode estar querendo lhe dizer alguma coisa, mas ele não consegue se lembrar.

Quando ela chega lá, ela está uma bagunça. Seu cabelo está despenteado, a maquiagem borrada; ela olha pra ele e a boca oscila.

"Você não sabe... sabe?"

"Sei o quê?", ele cruza os braços sobre o peito, e sente o tremor passando por seu corpo. Ele quer sair agora, não tem certeza se quer ouvir o que ela tem a dizer.

"Oliver...", sua voz falha. "Qual é a última coisa que você se lembra?"

Ele olha pra longe, franzindo a sobrancelha tentando se concentrar. "Nós estávamos caminhando... ela estava carregando um monte de pastas e papéis..." Ele ri pra si mesmo. "Ela é tão teimosa", ele murmura, rindo baixinho. "E então... então..." Ele balança a cabeça, faz uma careta de repente. "Nós viemos pra casa... estávamos bem... Mas eu não sei onde ela está agora... Eu não..." Ele passa a mão pelo rosto, pára. Há quanto tempo será que não se barbeia? Desde que dormiu?

"Vocês não vieram para casa", ela fala pra ele, olhando triste ao redor. "Pelo menos não juntos..."

Ele balança a cabeça. "Você está enganada... Sempre ficamos aqui... Todas as coisas dela estão aqui, não existe razão pra ela ficar na Torre..."

"Oliver..."

"Ela se mudou o ano passado..." Ele pisca rapidamente, tentando clarear o queimor em seus olhos. "Ela quis repintar... Disse que era tudo muito verde." Ele ri, mas o riso falha, quebra em soluços.

Ele não sabe porquê, não consegue entender porque dói tanto.

"Oliver ela levou um tiro... Houve uma emboscada no carro..." Lois caminha até ele devagar, com as mãos erguidas. "Você foi esfaqueado... Precisou de pontos, você não lembra?", ela toca seu lado e ele sente a dor mas não liga, porque ela está enganada. Não tem como ele ter esquecido uma coisa dessas.

"Não..." Ele tenta se afastar dela.

Ela o segura, o mantém no lugar. "Escuta o que eu vou falar", ela pede. "Faz quatro dias, ok? Você levou Chloe para o hospital, ela estava... ela estava ferida." Olhando pra ele, com os olhos cheios de lágrimas, tenta ver se ele está registrando tudo. "Eles a levaram para cirurgia mas Ollie... ela não sobreviveu, querido... ela não conseguiu..." Sua voz some, a cabeça cai, e ela chora.

Ele sabe que deveria abraçá-la, dar um tapinha em suas costas e dizer que vai ficar tudo bem, mas ele não consegue.

Porque ela está mentindo.

"Não... Não, ela está bem... Ela só está ocupada. Ela-ela ficou presa no trabalho ou alguma coisa assim..." Ele se afasta dela e começa a andar de um lado para o outro tentando encontrar uma explicação lógica. "Eu não..." Ele olha pra ela. "Eu não sei porque você está inventando tudo isso... Ela é sua prima, você a ama... Ela vai voltar pra casa logo, eu sei."

Ela seca o rosto, tenta parecer forte mas falha. "Você não pode negar isto, Oliver... Olha pra você", Ela aponta pra ele, move a mão sobre a bagunça em suas roupas. O sangue, a mancha endurecendo suas roupas. "Ela estava com você... Eles a acertaram primeiro... Você a pegou, levou para o hospital, eles tentaram salvá-la, mas não conseguiram."

"Não, não, não..." Ele continua repetindo, cobre os ouvidos e fecha os olhos. Ela está errada, ela está tão errada.

E então seus joelhos enfraquecem e ele está no chão e seu coração, seu peito, dói muito agora.

Por que é verdade. Porque ela está morta. Porque ele não conseguiu salvá-la.


III-Raiva

"Sai daqui", ele ordena.

Ela olha pra ele, confusa.

Ele olha pra ela do chão onde está, seu corpo ressoando com a raiva. "Sai. SAI DAQUI!"

Ela se encolhe, baixa o olhar e acena com a cabeça. Ela não fala nada e ele sabe que tem alguma coisa errada, porque Lois Lane lutaria. Ela gritaria e berraria e o daria um tapa por ser um idiota. Mas ela vai, silenciosamente, e não olha para trás.

Ele ouve a porta do elevador se fechar, respira no silêncio novamente.

Ela vai te acertar por essa depois, a voz de Chloe soa em seu ouvido.

E ele sabe disso, mas não consegue se importar.

Ao invés disso, ele levanta do chão e vai para o quarto. Arranca as roupas, as joga no chão e pega qualquer coisa para vestir. O sangue dela ainda está em sua pele, e faz seu estômago revirar. Ele não se importa. Ele deixa o apartamento e vai para a loja de bebidas mais próxima e compra muitas. Pouco tempo depois ele bebe até perder a consciência.

Você prometeu, ela sussurra em sua cabeça.

Ele engole com dificuldade.

Ele sabe. Ele sabe o que disse.

Estava sóbrio há três anos, sem tomar uma gota. Ela o mantinha lúcido, escutava ele falar e descontar a raiva quando não podia correr para a bebida para relaxar. Ela o acompanhou à primeira reunião do AA, segurou sua mão e ouviu todas as histórias e esperou a vez dele.

Eu sou Oliver... E eu sou um alcoólatra.

Ela estava orgulhosa, acenou pra ele com a cabeça e fixou o olhar. E quando ele ganhou sua ficha de três anos, ela os serviu espumante de uva e comemoraram sua conquista.

Nem uma gota. Até hoje.

Hoje ele bebeu todas as garrafas que viu em sua frente. Ele desmaiou, acordou, bebeu mais, destruiu o apartamento até não sobrar nada além de uma bagunça de móveis quebrados. Deitado na cama deles, ele ficou do lado esquerdo, não tocaria no lado dela. Ainda tinha o perfume dela mas isso não o confortava agora. Só o deixava com mais raiva.

Todo mundo que ele amou...todos o deixaram. Ou porque tenham ido embora ou morrido, era sempre a mesma coisa. Ele queria odiá-la, gritar para o fantasma dela no meio da noite.

"Como eu odeio você... Eu odeio muito você..."

Mas ele sabia que não odiava... e onde ela estava, viva, ela também sabia...

Ele se escondeu em seu apartamento até os outros virem, procurando por ele, querendo que ele saísse dessa tristeza. E então ele deixou o apartamento, embarcando no jatinho Queen para onde diabos ele pudesse levá-lo. Ele não levou nada além de uma garrafa de uísque e uma foto dos dois juntos, nada mais importava.

Ele ficou em quartos de hotel, mas no meio da noite se encontrava sozinho, sem ela para abraçar, para se encaixar. E ele destruía o quarto até a segurança ordená-lo a sair e colocá-lo em um táxi, até o próximo lugar por mais uma ou duas noites, até cansarem de seu comportamento. Ela o teria acalmado, o teria abraçado e abrandado a raiva com nada mais do que algumas palavras e um beijo. Mas ela não estava e sua raiva só crescia e crescia até que ele não fosse nada além de raiva e álcool e um homem destruído caído no chão, segurando a foto da mulher sorridente que ele nunca mais abraçaria.

Três meses ele passou no exterior, sendo expulso de cada motel que entrou até que finalmente, ele voltou para casa.


IV-Barganha

Estava limpo e vazio e ele sentou no sofá, com as mãos nos joelhos, e rezou.

"Eu sei que você e eu não temos uma grande história juntos", ele diz olhando para o teto como se esperasse que Deus aparecesse ali e assentisse. "Mas se você pudesse só..." Sua mandíbula trava. "Se você pudesse mudar isso... Mudar só uma coisa..." Seus olhos queimam. "Eu faço qualquer coisa... Só... Traga ela de volta... Por favor..."

Ele não tem resposta.

Então ele se oferece em troca e quando isso não funciona, ele pensa que talvez o dinheiro funcione. Por que diabos Deus precisaria de dinheiro, ele não sabe. Mas ele tem bilhões e está disposto a dar cada centavo. E cada segundo que passa e ela não reaparece, viva e bem, ele fica mais e mais triste. Ele se oferece para ser melhor; diz que vai fazer tudo que Deus quiser que ele faça. Ele vai ir para a igreja, vai dar seu dinheiro para a caridade, ele vai se casar com ela apenas para que não façam sexo antes do casamento. Ele planejava, de qualquer jeito, ele fala para Deus.

"Eu ia me casar com ela, eu juro... Uma cerimônia pequena porque ela odeia multidões e seus subterfúgios, ser gentil com os políticos... Só eu e ela e alguns amigos mais próximos... E eu jamais quebraria meus votos, não com ela..."

Mas Deus não cai nessa, não dá o que ele quer e Oliver é deixado sozinho novamente, sem nada para fazer além de desejar que as coisas fossem diferentes.


V-Culpa

Ele culpa a si mesmo. Não os que a mataram, não os responsáveis por eles estarem onde estão.

Ele devia tê-la salvo, devia ter matado qualquer um que se atrevesse a machucá-la. E o que ele conseguiu pelo pouco que fez? Alguns pontos? Estava aborrecido consigo mesmo.

Ela foi esfaqueada várias vezes, tudo enquanto ele lutava com os outros, e ele não conseguiu levá-la ao hospital nem a tempo de salvá-la. Alguns minutos antes, talvez, um médico melhor, talvez. Ele falhou. Foi tudo sua culpa. Ele prometeu salvá-la e não conseguiu.

Ele colocou uma mecha de cabelo dela atrás da orelha, observou quando seus lábios se curvaram com afeição e um suspiro profundo lhe escapou. "Você está se preocupando de novo, não está?"

Ele franziu a testa. "Não exatamente."

Rolando por cima dele, ela ergueu uma sobrancelha, seus sonolentos olhos verdes o olhando com conhecimento. "Esse é o preço que pagamos..."

Ele olhou indagando. "Precisa ser tão alto?"

Ela suspirou, pegando o rosto dele em suas mãos. "Ninguém vive para sempre."

"Então eu tenho simplesmente que aceitar que qualquer dia desses sua sorte acaba?" Ele zombou, desviando os olhos para a escuridão.

Ela enrolou-se contra ele, beijou seu peito suavemente. "Você não pode me salvar, Oliver... O destino decide, então vamos aproveitar qualquer que seja o tempo que tenhamos juntos..." Ela acariciou seu pescoço, conhecendo sua fraqueza e sorriu enquanto ele relaxava contra ela. "Pelo que você diz, nós estaremos grisalhos e velhos, e nossas rugas terão rugas quando finalmente chegar nossa hora."

Ele suspirou em seus cabelos, abraçou-a apertado e balançou a cabeça. "Eu vou mantê-la a salvo", ele prometeu.

Não importa o que ela dissesse, não mudaria sua mente.

Ele se odeia, odeia que não possa vê-la se tornando mãe, avó. Ele odeia que seu sorriso seja só uma lembrança agora; uma forma impressa em sua memória que dói fisicamente. E é sua culpa; ele não aceita que seja diferente. Os policiais encontraram os responsáveis; eles foram acusados e aguardam julgamento. Ele não se importa. Ele devia tê-la salvo, ele devia ter desviado os golpes mortais. Deveria ter sido ele, não ela.

E não importa o que qualquer um diga, eles não mudarão sua mente.

Ele a matou. Ao não salvá-la, a culpa era dele.


VI-Depressão

Ele tinha certeza que seus negócios iam bem quando ia abastecer. A equipe estava por conta própria, seus poucos amigos eram ignorados, e ele estava tão no fundo do poço que parecia não ter mais saída. Ele passa os dias no sofá; raramente toma banho, come, ou mesmo se incomoda em atender o telefone. Não responde ao zumbido do elevador quando as pessoas o chamam, ao invés disso espera até o barulho desaparecer e o silêncio tomar conta. Como um homem que já sofreu bastante e viu o pior lado da maioria das coisas, suicídio honestamente havia sido opção apenas uma vez em sua vida. E depois, ele estava feliz que não tivesse morrido naquela noite, de pé em um palco onde o Homem Brinquedo bancava o titereiro. Ele consertou seus erros e foi em frente, encontrando o amor e a verdadeira parceria em alguém tão cansada quanto ele.

Mas ela se foi e agora a esperança parecia inalcançável. Não havia ninguém para arrastá-lo da sarjeta e colocá-lo no caminho certo, ninguém para segurar sua mão nas reuniões do AA, e não havia braços para recebê-lo todas as noites. Ela não estava lá para ajudá-lo a limpar os cortes de uma noite de patrulha, provocando-o o tempo todo como ele parecia um bebê quando se encolhia e reclamava que o iodo ardia. Ele não acordaria para fazer duas xícaras de café ou sorrir enquanto ela deixava a cama vestindo a camisa que ele havia deixado no chão, que ia até a coxa que só o fazia querer arrastá-la de volta para a cama. Não tinha mais os olhos verdes repletos de calor e humor, o riso tão doce que fazia seu estômago apertar de carinho; estava tudo acabado agora.

Seus dias são para passar; para olhar pela janela e assistir o sol nascer e se pôr, outro dia sem ela. Ele se estabelece numa bagunça incoerente que não se importa com nada. Quando ele cansa de ouvir o telefone tocar, ele o tira do gancho e deixa no chão. Tempo é uma ilusão, passando por ele em longos momentos de depressão que o deixam cansado e inquieto e esmagado pela tristeza.

Não é como um conhecido que morreu; não era Jimmy Olsen ou um inimigo como Lex Luthor... Era o amor da sua vida; a mulher com quem ele planejava se casar um dia. Era sua Sidekick; sua parceira contra o crime. Sem ela, ele desmorona, seu mundo inteiro desmorona. Sem dúvida que o Conselho da Queen Industries o despojou de seus títulos e passaram por cima dele para afastá-lo de qualquer tomada de decisões. Ele não se importava. Se a equipe não se desfez já era o melhor possível. Ficariam bem sem ele. Já haviam chegado tão longe, já havia lhes ensinado o que sabia; eles sobreviveriam.

Ele dá desculpas, se deita em uma banheira com a água extremamente quente com uma taça de vinho em uma mão e a torradeira elétrica por perto. Seria tão fácil. Mas mesmo com seus olhos brutos e sua garganta grosseira, mesmo que ele se oponha a imagem no espelho, a sarjeta que Oliver Queen é agora, ele não consegue dar esse passo atrás e acabar com tudo. Passando a mão pelo rosto mal barbeado, ele suspira. Ela o odiaria por isso. Ela o chamaria de covarde e lhe daria um chute no traseiro por considerar essa saída.

Mas droga isso dói. Percorre suas veias como veneno; devorando-o enquanto ele mal consegue respirar ou se mover ou entender o amanhã. É tudo hoje e ontem; os dias com ela e os dias sem ela.

Um ano... Doze meses de depressão interminável que rouba a vida dele. E no 366º dia ele liga para Emil.


VII-Aceitação

Ele visita o túmulo dela. Ele não conseguiu fazê-lo antes, mas acha que talvez consiga agora. Ele tem um buquê de tulipas pra ela e um coração repleto de desculpas para pedir. Quando ele chega ao seu túmulo, ele olha para o anjo de pedra, pisca enquanto as lágrimas queimam seus olhos. Sua boca treme, mas ele respira fundo, se recusa a chorar.

"Trinta dias", ele diz pra ela. "Vou pegar minha ficha de trinta dias hoje..." ele engole, sorri um pouco amargamente. "De novo."

Ele não tem resposta.

O vento está forte, arrastando flores secas de outras sepulturas. O cemitério está vazio a não ser pelo zelador do outro lado, bem longe dele.

"Você ficaria orgulhosa de mim, de novo", ele murmura. "Eu me tirei da sarjeta dessa vez... Com uma pequena ajuda de Emil e J'onn."

Ele seca o suor de suas mãos na calça, se ajoelha para depositar as flores onde o capim cresceu através da sujeira.

"Eu estou vendo um conselheiro... É um cara legal... Não fala muito, na maior parte do tempo deixa eu falar..." Ele olha pra longe, aperta a mandíbula. "Eu conversei com Lois finalmente... Ela não está tão furiosa quanto eu achei que ela estaria... Ela só gritou comigo por uma hora e depois me perdoou... Disse que eu tenho que aparecer num domingo para jantar na fazenda dos Kent." Sua respiração é difícil e ele esfrega os olhos duramente. "Eu tenho medo, eu vou chegar lá e o assento ao lado vai estar vazio... esperando por você."

Lambendo os lábios, ele olha pra cima, desejando que as lágrimas não tivessem turvado sua visão.

"Eu sinto sua falta...", ele sussurra, voz quebrada. "Todo dia... Toda vez que eu acordo e procuro por você e você simplesmente... você não está lá." As lágrimas escapam, deslizando quentes pelo seu rosto. "E eu quero te pedir desculpas mas eu sei que você vai dizer que não precisa... você vai dizer que eu não tenho culpa e que era sua hora e você vai..." Ele aperta os olhos com força e trava a mandíbula, um soluço travado dolorosamente em sua garganta. "Você vai dizer pra eu me perdoar", ele soluça.

Estendendo a mão, ele traça as letras de seu nome, esculpido em mármore verde com precisão primitiva. "E eu não consigo... ainda não... Mas eu vou... Por você, eu vou... Eu só preciso de um pouco mais de tempo... Eu só preciso..." de você. Ele só não diz porque sabe que não é possível e porque agora ele aceitou.

Com um suspiro, ele se levanta, coloca as mãos nos bolsos e olha tristemente para o anjo mais uma vez. "Tenho uma reunião hoje... vou fazer a abertura... Eles querem que eu compartilhe minha história... e acho que isso significa compartilhar você..." Ele levanta os ombros, deixa cair o olhar. "Depois, eu vou chamar a equipe... já faz algum tempo e eu tenho muito o que compensar, mas eles vão me perdoar, eu acho..." Ele sorri. "Mesmo que seja só porque você ia querer que eles perdoassem."

Respirando fundo, ele fecha os olhos e só espera. Não há nenhum som, nada. É só ele em um cemitério, desejando que as coisas tivessem sido diferentes.

"Eu te amo", ele sussurra.

E por um momento, apenas uma fração de tempo, ele jura que pode senti-la alí. Ele pode sentir suas mãos em seu rosto e ouve a suave risada em seus ouvidos.

Eu também te amo.

Ele vai embora, anda com a cabeça erguida e com o futuro que tem pela frente. Ele não sabe o que esperar, mas só de ter o amanhã já é melhor do que tudo que teve antes.


VIII-Despertar

Ele visita o túmulo dela apenas para conversar; para dividir sua vida com ela. Ele não tem certeza se ela pode ouvi-lo, mas ele vai mesmo assim.

Ele recebe sua ficha de 30 dias e depois a de um ano. E finalmente, ele está tão sóbrio que não se lembra mais do gosto do álcool. Nem quer se lembrar.

Ele não namora, simplesmente não sente mais o desejo. Os tablóides o pintam como um bilionário qualquer, triste e patético, destinado a viver sozinho e lamentar a partida dela para sempre. Ele não contesta. A equipe o perdoa e finalmente quando suas mãos não tremem mais cada vez que chega perto de seu equipamento, ele recupera sua dupla-identidade e volta ao trabalho que eles tanto amavam. Ele não deixa ninguém tocar a Torre de Vigilância dela; só ele. Ele aprende tudo sobre os computadores para que ele possa dominar o sistema e não tenha que deixar outra pessoa entrar.

Lá eles jantam, celebram e passam os feriados. Ele sabe que ela ia querer que fosse desse jeito. A mesa é rodeada por novos e velhos rostos; amigos e família. Comida e conversa fluindo; um brinde e uma oração pela boa saúde e pelas boas pessoas. Ele coloca em seu rosto o sorriso esperado dele e vive sua vida como ela ia querer que ele vivesse. Mesmo que a cadeira a seu lado esteja sempre vazia. Ele não bebe, não deixa os dedos da depressão o pegarem, e vê seu conselheiro duas ou três vezes a cada duas semanas. Ele se consulta com Emil de vez em quando, não se importando que tenha sido a condição imposta pela Liga para seu retorno. Ele teria que se manter sóbrio e manter-se saudável se quisesse que continuassem sendo um time. Ele tem um padrinho que o mantém na linha e terminou os Doze Passos de sua recuperação.

Com o passar dos anos a Liga se expande e ele sente orgulho de seu trabalho. Ele vê o mundo se reparando e se tornando melhor e enfrenta os desafios sem pestanejar. Ele tem um breve romance com Dinah mas não dá certo, ele simplesmente não sente mais atração ou a faísca. Ele tenta e falha e só sente mais a falta dela. Ele chora em seu túmulo no dia seguinte e pede perdão e sente como se a tivesse traído. Ele desiste de encontrar companhia depois disso. Ele não consegue e não quer mais.

Finalmente, a idade o alcança.

Aos setenta anos, um bilionário aposentado que sempre compartilhou quando a caridade era a causa, um super-herói secreto que salvou o mundo de uma a três vezes, Oliver Queen guarda as armas. Em seu apartamento em Metrópolis, deitado no lado esquerdo da cama, com a mão procurando a pessoa ausente a sua direita, ele morre dormindo. Suas realizações foram muitas, ele a orgulhou, e quando suas rugas tinham rugas, ele simplesmente pára.

Seus amigos o enterram ao lado dela, lhe desejam o melhor, e celebram a longa e próspera vida que ele teve. Finalmente ele pode descansar e ser feliz. Ele está com ela agora, todos têm certeza. Oliver Queen e o amor de sua vida, perdido muito cedo. Era só ele e Chloe agora; para todo o sempre.

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5 comentários:

  1. Nossa que triste ;( devia ser proibido escreverem fics assim, não consigo parar de chorar...
    vilm@

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  2. Meu Deus...
    Sem palavras...
    Gostei tanto dos sentimentos, tudo muito bem feito... *o*
    Mas é triste demais, cara.. Mesmo assim, é muito bom...

    Caio Rossan

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  3. Pois é... essa fic é difícil, mas ela é perfeita, como o Caio disse, o jeito como os sentimentos são descritos... muito real... imagina o sofrimento que foi traduzir, quase desisti... muito desgaste emocional...

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  4. Geeente, linda demais. Super bem escrita. É muito triste, mas mesmo assim, amei.
    Obrigada pela tradução. :))

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  5. Realmente, deveriam proibir escreverem fanfics desse jeito. No final já estou chorando litros.

    Muito linda!!!!!!!!!!

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