Título: Pai E Filha
Resumo: Universo 'Two of Us'. Gabe precisa reavaliar sua opinião sobre Oliver. Com exceção do Prólogo e do Epílogo esta história será narrada do ponto de vista de Gabe. Esta história pretende preencher o buraco sobre a participação de Gabe em Smallville. Pra onde ele foi? Esta série inteira é sobre família, então agora é hora de resolver os problemas na família de Chloe. Definitivamente tem um tom mais sério que as outras histórias. Acontece seis meses depois de Nightblindness.
Autora: newbatgirl
Classificação: PG-13
Anterior: Prólogo
Histórias Anteriores:
Shout Out Loud
Silver Lining
Question
How Soon Is Now
Want
Have
Beautiful Side Of Somewhere
Nightblindness
...Arredores de Star City... Residência Queen... Começo da noite... uma semana depois...
Gabe Sullivan saiu de seu carro alugado e olhou ao redor da enorme casa - não, mansão - que sua filha e seus netos chamavam de lar. Netos! Quatro meses, e a ideia de ter netos era ainda tão estranha para Gabe. Chloe, sua garotinha, era mãe, mãe de gêmeos.
Não parecia real.
Talvez parecesse real quando ele os conhecesse.
Uma onda de vergonha passou por ele quando percebeu que todo mundo havia conhecido os gêmeos antes dele. Lois e Clark estiveram lá quando eles nasceram. Martha aparentemente ficou duas semanas com Chloe depois que voltaram do hospital. Ela disse a Gabe que os gêmeos eram 'mais lindos do que o céu podia permitir' numa voz transbordando tanto orgulho e amor que Gabe imaginou se Martha sabia que não era avó deles. Mas isso não parecia importar.
Era usa própria culpa. Que ele não tenha estado ao lado de sua filha quando ela se tornou mãe. Por orgulho. Ela nunca pediu que ele ficasse longe. Nem o marido dela.
Marido.
Chloe havia se casado com Oliver Queen.
Isso tinha sido um problema. Gabe leu algumas coisas sobre quem era Oliver Queen e não achava que Chloe deveria ficar perto dele, muito menos se casar com ele.
Mas Chloe tinha sua própria opinião, como sempre, e ela se casou com ele do mesmo jeito.
A relação deles estava estremecida desde o casamento. Chloe sabia que Gabe não gostava de Oliver e ele suspeitava que Oliver também sabia. Eles ainda se falavam, trocavam emails, e tentavam agir como se as coisas estivessem normais, mas não estavam. Chloe queria Oliver e não importava o que seu pai pensava.
Ele achava que devia estar agradecido que ela o tenha colocado na lista de convidados do casamento. A primeira vez que ela se casou - brevemente com aquele fotógrafo que ele nunca conheceu - eles nem estavam se falando por causa de uma briga sobre os cuidados com sua mãe. Ele ficou sabendo do casamento por meio de outras pessoas.
Quando ela ficou noiva de Oliver, Chloe e Gabe já tinham superado esse problema, apenas para encontrarem uma nova onda de problemas. Uma nova onda de problemas chamada Oliver Queen.
Então, para piorar as coisas, Oliver havia se mudado com Chloe para o outro lado do país, Star City. E era por isso que só agora Gabe pôde vir conhecer seus netos. Ele provavelmente poderia ter vindo antes mas...
Não, ele deveria ter vindo antes...
Era culpa sua, não deles. Ele podia sentar e lamentar o fato de Oliver Queen ser seu genro ou ele podia seguir em frente, antes que perdesse mais tempo com os únicos netos que ele poderia ter.
E isso trouxe Gabe de volta para o presente. Parado na frente da enorme mansão, localizada numa comunidade bem fechada de Star City, com mais postos de segurança do que os aeroportos mais movimentados. O último guarda examinou até os brinquedos que ele trouxe para as crianças.
Que tipo de vida requeria tanta segurança? Só por ser um bilionário? Ou tinha algo mais?
Gabe não fazia ideia. Mas também, ele não sabia mais muito sobre a vida de sua filha.
Tirando a bagagem do porta-malas, Gabe subiu as escadas de pedra que levavam até as portas duplas da mansão. Portas que pareciam maiores do que toda a frente de seu condomínio.
Antes que ele pudesse encontrar a campainha ou bater, a porta se abriu e Gabe colocou os olhos em Oliver pela primeira vez desde que o casal havia ido até sua casa avisar que se mudariam para Star City, há mais de um ano atrás.
Além disso, Gabe só via Oliver na CNBC e na seção de negócios do jornal.
Nesse momento, no entanto, ele não parecia que estava indo para a CNBC.
Ele estava vestido casualmente com um jeans e uma camiseta verde. Ele estava descalço e tinha uma toalha amarela em um dos ombros.
"Oi", o jovem homem disse simplesmente.
"Oi", Gabe respondeu, com a mesma simplicidade. "Eu nem bati."
Oliver encolheu os ombros. "O segurança avisou assim que deixaram você entrar. Entre. Deixe eu pegar isso."
Gabe entrou no hall e deixou Oliver pegar a mala de sua mão. O hall era... estarrecedoramente grande. Gabe teve que se lembrar de fechar a boca.
"Como foi o vôo?" Oliver perguntou.
"Bem... obrigado."
"Nós poderíamos ter ido buscá-lo no aeroporto, sabe."
"Tudo bem. Eu não queria interromper a rotina com as crianças. Nessa idade, eu lembro que é um pouco difícil..."
Oliver assentiu. "Certo... falando nisso, Chloe está lá em cima. Estamos dando banho nas crianças", ele disse mostrando a toalha em seu ombro. "Eu vou ajudá-la a terminar de dar banho em Moira. Sempre damos banho nela primeiro já que ela fica malcriada à noite."
Gabe assentiu sentindo-se ao mesmo tempo feliz por saber desse pequeno detalhe sobre sua neta, e surpreso por Oliver compartilhar com ele. Que ele soubesse disso.
"E Connor", Gabe não resistiu ao desejo de perguntar. "Como ele é à noite?"
"Oh, ele é uma coruja... mas está melhorando."
"Mal posso esperar para conhecê-los."
"É, bem, é melhor eu ir lá ajudá-la... Você pode... uh, esperar mais confortavelmente na sala familiar. Eu levou sua mala lá pra cima."
Gabe assentiu e olhou ao redor do enorme primeiro andar. Sala familiar? Tinha um mapa? Um posto de informações em algum lugar? Ele olhou de volta para Oliver.
O jovem homem leu a pergunta em seu olhar. "Certo, desculpe... Seguindo o corredor. Terceira porta à direita, em frente a cozinha."
Gabe observou enquanto Oliver desaparecia carregando sua mala e seguiu as instruções até a sala familiar. Ele olhou as outras salas enquanto passava.
Era como uma daquelas casas maravilhosas de revista, ou como uma daquelas casas que eles sorteavam todo ano na HGTV, aquelas em que ninguém conseguiria de fato morar por causa dos impostos ultrajantes.
Sua filha vivia ali. Seus netos viviam ali.
A sala familiar era enorme. Ainda maior que a sala de estar. Havia sofás e cadeiras em todo lugar. Quantas pessoas frequentavam a casa normalmente pra eles precisarem de uma sala como essa?
Parecia que o lugar servia como sala de jogos também. Havia um cobertor no chão e um cesto perto de uma enorme cadeira cheio de brinquedos e chocalhos. Havia também dois assentos de bebês que tocavam música perto de um dos sofás. Eles não tinham essas coisas quando Chloe era bebê mas pareciam ser realmente importantes atualmente. Uma grande quantidade de amigos de Gabe tinha filhos e netos e pareciam estar sempre falando sobre itens para bebês. Novos assentos, travesseiros especiais, cadeirinhas de viagem. Era de enlouquecer.
Gabe se aproximou do cobertor e pegou um bichinho de pelúcia do cesto, virando-o em sua mão. Era um pequeno urso amarelo. Chloe não gostava de ursinhos quando era criança. Ela achava que eles eram assustadores. Ela preferia coelhos ou cachorrinhos.
Gabe percebeu um som na sala e caminhou em direção ao barulho. Era uma babá eletrônica, que estava em cima da mesa ao lado da grande cadeira. Alguém havia deixado ligada. Depois de um momento ele percebeu que podia ouvir Oliver e Chloe, que estavam presumivelmente no quarto dos bebês.
"Onde ele está?"
"Lá embaixo... Eu disse que ele podia esperar na sala familiar... é esse o cobertor que você quer que use?"
"Não... o amarelo... docinho, pára de se mexer... Ele disse alguma coisa?"
"Na verdade não... ele só parece um pouco chocado. Deve estar cansado da viagem. Ele disse que está ansioso para conhecer as crianças."
"...Eu vou dar banho no Connor. Quando você terminar de vestí-la, você leva ela lá pra baixo?"
"Levo... eu acho que ela está com fome..."
Chloe deu risada. "Ela está sempre com fome. Eu desço para alimentá-la o mais rápido possível. Eu a alimento primeiro já que ela parece estar cansada."
"Boa ideia... Escova?"
"No trocador... à direita."
"Encontrei."
"Ollie, me dá outra toalha, ele sempre faz uma bagunça no banho..."
O aparelho ficou mudo e Gabe se sentiu mal por ter escutado a conversa. Não era uma conversa particular... só relaxada. Normal. Gabe não sabia o que estava esperando de sua filha e seu marido, mas por alguma razão, normalidade não estava no topo da lista.
Sem querer se sentar novamente depois de ficar sentado no avião durante horas, e no tráfego de Star City, Gabe caminhou pela sala. Havia pequenos portarretratos espalhados. Não só de Chloe e Oliver. Tinha algumas fotos de uns homens que ele se lembrava do casamento. Os que Chloe havia apresentado como 'colegas de trabalho' de Oliver. Gabe não lembrava os nomes deles, mas se lembrava que a maioria deles era bem grande e meio intimidador. Chloe parecia se dar muito bem com eles, mas então, ela sempre teve mais amigos do que amigas.
Ele viu Clark e Lois em uma das fotos. Muitas das fotos pareciam ter sido tiradas na casa, e até mesmo naquela sala. Outras no quintal, e outras ainda na praia.
Havia também algumas fotos de Chloe grávida, algo que Gabe não tinha visto muito pessoalmente, uma vez que ela e Oliver se mudaram para Star City pouco depois que ela lhe deu a boa notícia. Ele esboçou um sorriso. Como sua filha minúscula havia carregado aqueles bebês, ele não sabia.
E havia também algumas fotos dos bebês, no colo de Chloe ou Oliver, e em algumas, no colo daqueles mesmos homens, Lois e Clark, Martha, e outras pessoas que ele não reconhecia.
Esses colegas de trabalho de Oliver estavam sempre por perto.
Gabe ouviu um barulho atrás dele e se virou para ver Oliver com um pequeno pacote nos braços.
"Aqui está", Oliver disse, sua atenção voltada para o bebê. "Acho que temos uns dois minutos para as apresentações antes que ela perceba que não está sendo alimentada e fique brava com nós dois. Chloe está terminando com Connor, e ela vai alimentá-la daqui a pouco. Essa é Moira."
Gabe só estava parcialmente ouvindo o que Oliver dizia, enquanto seus olhos se fixavam na pequena visão em seus braços. Cabelo loiro, grandes olhos verdes, a pele ainda avermelhada pelo banho, envolvida num cobertor amarelo, Gabe sentiu como se tivesse voltado no tempo, vendo sua própria bebezinha novamente.
"Wow, você parece com ela."
"É", Oliver respondeu com um pouco de orgulho. "Ela é maravilhosa. Parece com a mãe."
"Você não faz ideia..." Gabe respondeu, pensando nas fotos do bebê em sua mala. Ele estendeu as mãos. "Você acha que ela vai..."
Oliver assentiu e passou-a pra ele cuidadosamente. "Não ache que é pessoal se ela ficar irritada. Como eu disse, ela está com bastante fome."
Gabe ajustou o pequeno pacote em seus braços e sentiu seu peso. "Ela está maior do que eu imaginei."
Oliver estava tirando alguns brinquedos de bebês do sofá mais próximo para que pudesse se sentar. "O quê?... ah, é.. os dois estão com pesos bons por serem gêmeos. Eles dobraram o peso desde o nascimento, o que supostamente é uma coisa boa. Pelo menos foi o que o pediatra disse."
Gabe assentiu para Oliver. "Eles... dobraram, você disse?" Ele estava novamente surpreso com os pequenos dados sobre os bebês que Oliver estava lhe passando. Por alguma razão ele tinha dificuldade em imaginar o beberrão, mulherengo Oliver Queen em um consultório pediátrico.
Gabe se afundou no sofá e olhou para a criança novamente. Ela o observava intensamente e se mexia em seus braços, enquanto tentava ficar mais confortável. Ele arrumou o jeito como a estava segurando, deixando-a mais sentada. Fazia muito tempo desde que ele tivera um bebê em seus braços, ainda mais nessa idade. Ela chorou um pouco, então se acalmou.
"Oi bebê", ele disse, sentindo-se meio estranho em falar com a criança com Oliver olhando, tão perto. "Você é muito linda. Você parece com sua mamãe nessa idade."
O bebê fechou os punhos em resposta e Gabe os pegou em sua mão. "Ela está muito bem considerando que sou um estranho", ele disse a Oliver depois de um momento.
"Os dois estão acostumados em ter muita gente por perto. Eles passam bastante de mão em mão."
Gabe relembrou as fotos e engoliu um pouco da amargura em saber que os 'colegas de trabalho' de Oliver passavam mais tempo com seus netos do que ele. Bem, ele tinha que consertar isso, certo?
"Nada os perturba, além de não serem alimentados quando estão com fome", Oliver continuou e como se ela compreendesse o que ele estava falando, Moira soltou um som irritado e chutou frustrada com suas perninhas.
"E acho que estamos nesse momento..."
"E parece que eu cheguei bem na hora..."
Gabe olhou pra cima, ao som da voz de sua filha e a viu entrar na sala com outro pacotinho em seus braços, esse num cobertor verde. "Chloe..."
"Oi, Pai. Como foi o vôo?"
Ela estava sorrindo e balançando o bebê levemente. Como Oliver, ela não usava sapatos e estava vestida casualmente, num jeans e uma camiseta folgada, vermelha e sem mangas.
"Bem, bem..." ele respondeu, sentindo-se um pouco idiota ao ver sua filha com o bebê nos braços. Tudo de repente pareceu... mais real. "Você está maravilhosa, querida."
Moira chorou novamente e desta vez o choro se estendeu.
"Obrigada, eu preciso pegá-la porque ela realmente precisa comer."
"Claro, aqui está..."
Chloe passou o menino - Connor - para Oliver e se inclinou para pegar a agora chorosa Moira de suas mãos.
"Está tudo bem, docinho, estou aqui", Chloe murmurou para a criança e se sentou na grande cadeira.
Gabe a observou atentamente enquanto ela pegava um outro cobertor da mão de Oliver sem olhar pra ele e jogar sobre si mesma. "Você não se importa, não é pai?"
Gabe percebeu que ela estava perguntando se ele se incomodaria dela alimentá-la ali e então ele percebeu que não havia lhe ocorrido que ela ainda estava amamentando. Ele na verdade não tinha pensado muito nisso.
"Não, claro que não... eles precisam comer."
Chloe ajustou a garotinha embaixo do cobertor e ela se acalmou imediatamente. "Pai, você quer comer alguma coisa? Nós acabamos de jantar mas podemos aquecer alguma coisa pra você."
"Não, não estou com fome, eu comi no vôo."
"E alguma coisa pra beber? Temos água, suco, refrigerante, e chá gelado, ou Ollie pode fazer café."
"Chá gelado está ótimo... eu pego..."
"Não, senta. Eu pego", Oliver respondeu. "Você pode se apresentar a esse garotinho aqui." Ele se inclinou e passou o bebê para seus braços. "Este é Connor. Você vai ver que ele é mais tranquilo que a irmã essa hora da noite."
Chloe riu. "Não por muito tempo. Quando ele perceber que ela está comendo e ele não, ele vai ficar bem bravo."
Gabe estava pouco atento a troca de um olhar divertido entre os dois enquanto ele olhava para o bebê. Outro par de olhos verdes piscaram pra ele. Ele ajustou o pacote em seu colo e observou o pequeno garoto. Ele parecia um pouco com Chloe mas Gabe tinha que admitir que ele provavelmente se parecia mais com Oliver. Especialmente o queixo. Ele ia comentar mas Oliver já tinha saído para a cozinha deixando-o sozinho com Chloe pela primeira vez em muito tempo.
"Ele parece com o pai", Gabe disse, indicando o pequeno bebê com a cabeça.
"Eu sei."
"Eles são lindos, Chloe. As fotos que você mandou... não chegam nem perto."
"Bem, que bom que você veio vê-los pessoalmente, não é?"
Ela não disse a palavra 'finalmente' mas ela ficou no ar do mesmo jeito, então ela poderia ter dito. Eles ficaram em silêncio por um tempo, os únicos sons na sala vindos dos bebês.
Connor pegou a ponta de seu casaco, chamando sua atenção de volta para o garoto.
Ele sorriu e o garotinho sorriu de volta. Sem dentes e modestamente.
"Eles devem dar bastante trabalho. Vocês têm alguma ajuda?" Gabe se lembrava vagamente quanto trabalho um bebê havia dado a sua mulher. Ele não podia imaginar como seria cuidar de dois.
"Nós temos uma pessoa alguns dias da semana para ajudar a lavar a roupa, limpar e cozinhar, assim eu posso descansar um pouco. Ela é uma senhora já, muito boazinha. Ela foi altamente recomendada..."
Um olhar distante cruzou o rosto de sua filha e ela sorriu pra si mesma antes de continuar. "Você vai conhecê-la na segunda. Nos fins de semana, Oliver está aqui e nós conseguimos dar conta. Era difícil no começo, mas agora que conseguimos estabelecer uma rotina, está bem mais fácil. Assim que eles comerem, eles vão dormir quase a noite inteira e podemos descansar."
Oliver retornou com uma garrafa de água em uma mão e um copo de chá na outra. "Não fale em voz alta, eles vão ouvir você", ele avisou brincando, passando a água pra ela.
Chloe balançou a cabeça, seguindo Oliver pela sala com os olhos enquanto ele ia entregar o chá para Gabe.
"Oliver insiste que eles conspiram quando estão no berço durante a noite."
"Linguagem de gêmeos, não subestime. Na primeira semana que eles estavam em casa, um acordava literalmente segundos depois que o outro dormia. Isso não é coincidência, é conspiração. Nós vamos precisar tomar cuidado com esses dois."
Chloe piscou pra ele. "Por alguma razão não acho que isso vai ser um problema", ela disse cautelosamente.
Gabe observou a conversa atentamente, certamente ele estava perdendo alguma coisa, mas decidiu deixar pra lá.
Apesar da abundante quantidade de assentos na sala, Oliver se sentou no chão, perto da grande cadeira, suas costas contra as pernas de Chloe.
"Martha concorda comigo", Oliver pontuou, virando o pescoço para olhar para Chloe.
Chloe fez um barulho satisfeito e correu os dedos pelo cabelo dele com sua mão livre. "Martha sempre concorda com você. Isso é porque todo mundo concorda comigo, e ela não quer que você fique sozinho."
"Ah, é mesmo?"
"Martha vem muito aqui?" Gabe mais declarou do que perguntou. Pelas fotos que ela havia lhe mandado por email, tudo o que ela sabia sobre os gêmeos, e as fotos dela na sala, a resposta era clara. "Como ela encontra tempo?"
"Ela cria tempo", Chloe respondeu suavemente. "E estamos felizes por isso. Moira e Connor praticamente não têm avós por perto. Ela faz um trabalho excelente como avó honorária."
Gabe não respondeu a provocação velada. O que ele poderia dizer? Ele sabia que os pais de Oliver estavam mortos e a mãe de Chloe... O silêncio se instalou de novo e Gabe vasculhou seu cérebro em busca de um assunto que não causasse mais tensão.
"Eu... uh... ouvi dizer que Lois e Clark estão noivos. Será que eles a farão avó logo?"
Chloe e Oliver trocaram olhares e Chloe balançou a cabeça. "Provavelmente não tão logo. Você conhece Lois. Ela diz que a melhor parte de ser tia é pegá-los emprestados e poder devolvê-los."
"Tia? Ela sabe que..."
Chloe revirou os olhos. "Eu sei, prima. Ela não liga. Ela insiste que é tia. Está tudo bem, nós usamos os termos 'tia' e 'tio' muito por aqui. Nem Oliver nem eu temos irmãos, então está tudo bem."
Gabe assentiu e se ocupou se distraindo com o bebê em seu colo.
Chloe interrompeu seus pensamentos depois de algum tempo. "Ollie, ela está quase dormindo, você pode me dar o Connor e pegá-la? Senão ela vai me tratar como um restaurante aberto a noite inteira."
"Pego." Oliver cruzou a sala e pegou Connor dos braços de Gabe. Ele e Chloe então fizeram a troca com tanta facilidade que Gabe desconfiou que eles a faziam várias vezes por dia. Connor estava rapidamente no colo de Chloe para comer enquanto ele tinha a quase adormecida Moira enrolada contra ele.
"Não esqueça de colocá-la para arrotar", Chloe avisou. "Ela comeu muito rápido."
"Eu também vou checar aquela outra coisa", Oliver disse a Chloe e ela assentiu.
Outra coisa? Do que eles estavam falando que tinham que esconder?
Oliver deu tapinhas nas costas de Moira por um momento enquanto deixava a sala e ela soltou um surpreendentemente alto arroto que ecoou de volta na sala familiar, assustando Gabe.
Oliver riu. "Passando muito tempo com seu tio Bart, eu acho."
"Tio Bart?" Gabe perguntou a Chloe, quando Oliver e Moira saíram.
"Amigo nosso, você o conheceu no casamento."
"Outro colega de trabalho de Oliver?"
"É, um dos padrinhos. Sapatos vermelhos." Chloe o lembrou, ajustando o cobertor sobre Connor.
"Certo", Gabe relembrou. Garoto baixinho, precisava de um corte de cabelo. Comeu três entradas.
A babá eletrônica soou com Oliver falando alguma coisa inaudível para o bebê no quarto deles. Chloe sorriu por um momento antes de desligá-la.
"Ele... Oliver parece te ajudar bastante com os bebês." Gabe disse cuidadosamente.
"Eu perguntaria o que você esperava mas não sei se quero saber a resposta", Chloe respondeu, a dureza em sua voz de volta.
"Honestamente eu não sabia o que esperar."
"Isso é por culpa sua, não dele."
"O que você quer que eu diga? Eu não posso ser o único que tinha dúvidas sobre o tipo de marido e pai que Oliver Queen seria."
"Na verdade, você é. Qualquer pessoa disposta a conhecer Ollie nunca duvidaria dele. Mas sabe, na verdade não importa. Você veio pelas crianças, não por ele. Ou por mim."
"Isso é ridículo. Eu vim ver todos vocês." Ok, talvez não todos eles, mas certamente ele queria ver Chloe.
Chloe riu sem graça. "Se isso fosse verdade, você teria vindo antes."
"Chloe..."
"Pai, não. Por favor, não. Não vamos deixar isso mais difícil do que precisa ser. Eu quero que você desfrute o tempo que vai passar com Moira e Connor. Eu quero que eles saibam que você se preocupa com eles. Além disso, não esperamos nada mais de você."
"O que você quer dizer?"
Chloe mexeu o pequeno corpo de Connor em seus braços. "Ollie não precisa da sua aprovação. Eu não preciso da sua benção. Você tem direito a ter suas opiniões, se é o que importa pra você. Apenas as mantenha guardadas enquanto estiver em nossa casa."
Apesar de sua intenção anterior de não reagir assim, Gabe se encontrou na defensiva. "Minhas opiniões não importam pra você há muito tempo."
Chloe suspirou. "É isso que você pensa? Que sua opinião não importa? Pai, se sua opinião não importasse, eu não estaria tão triste com essa situação há tanto tempo. Mas eu não tenho mais tempo nem energia pra ficar chateada. Então, não estou mais."
"Eu nunca quis te deixar triste."
"Realmente, sabendo que você não estava tentando e mesmo assim você conseguiu. Mas, como eu disse, nada disso importa mais. Eu sou mãe agora. Eu preciso me concentrar no tipo de mãe que eu quero ser, não no tipo de pai que eu quero que você seja."
Gabe ficou paralisado. De todas as coisas que ela poderia ter dito...
Era uma coisa aceitar que ela não se importasse com sua opinião sobre Oliver. Doía mas ele já tinha se acostumado. Agora parecia que... ela não se importava com mais nada...
Ele não sabia o que dizer. Então não disse nada. Ele só a observou abraçar Connor enquanto o alimentava, ocasionalmente sorrindo para o bebê e brincando com seus dedos.
Finalmente, quando parecia que ela tinha decidido que o garotinho já estava cheio, ela o colocou em seu ombro para arrotar, e riu quando ele emitiu um barulho ainda mais alto que o de sua irmã.
Quase como uma ideia pensada anteriormente, ela se virou pra ele. "Pai, está cansado da viagem?"
Ele sentiu que não era realmente uma pergunta. Ele assentiu. "Um pouco."
"Arrumamos um quarto de hóspedes pra você", ela se levantou. "Vamos, Connor. Vamos mostrar o quarto para o avô."
Enquanto ele a seguiu pela casa e subindo as escadas, percebeu que era a primeira vez que era chamado de 'avô'. Por alguma razão não soou como ele esperava.
___________________________________
Fim do Capítulo Um. Capítulo Dois.
___________________________________________________________________
Resumo: Universo 'Two of Us'. Gabe precisa reavaliar sua opinião sobre Oliver. Com exceção do Prólogo e do Epílogo esta história será narrada do ponto de vista de Gabe. Esta história pretende preencher o buraco sobre a participação de Gabe em Smallville. Pra onde ele foi? Esta série inteira é sobre família, então agora é hora de resolver os problemas na família de Chloe. Definitivamente tem um tom mais sério que as outras histórias. Acontece seis meses depois de Nightblindness.
Autora: newbatgirl
Classificação: PG-13
Anterior: Prólogo
Histórias Anteriores:
Shout Out Loud
Silver Lining
Question
How Soon Is Now
Want
Have
Beautiful Side Of Somewhere
Nightblindness
Sexta-feira
...Arredores de Star City... Residência Queen... Começo da noite... uma semana depois...
Gabe Sullivan saiu de seu carro alugado e olhou ao redor da enorme casa - não, mansão - que sua filha e seus netos chamavam de lar. Netos! Quatro meses, e a ideia de ter netos era ainda tão estranha para Gabe. Chloe, sua garotinha, era mãe, mãe de gêmeos.
Não parecia real.
Talvez parecesse real quando ele os conhecesse.
Uma onda de vergonha passou por ele quando percebeu que todo mundo havia conhecido os gêmeos antes dele. Lois e Clark estiveram lá quando eles nasceram. Martha aparentemente ficou duas semanas com Chloe depois que voltaram do hospital. Ela disse a Gabe que os gêmeos eram 'mais lindos do que o céu podia permitir' numa voz transbordando tanto orgulho e amor que Gabe imaginou se Martha sabia que não era avó deles. Mas isso não parecia importar.
Era usa própria culpa. Que ele não tenha estado ao lado de sua filha quando ela se tornou mãe. Por orgulho. Ela nunca pediu que ele ficasse longe. Nem o marido dela.
Marido.
Chloe havia se casado com Oliver Queen.
Isso tinha sido um problema. Gabe leu algumas coisas sobre quem era Oliver Queen e não achava que Chloe deveria ficar perto dele, muito menos se casar com ele.
Mas Chloe tinha sua própria opinião, como sempre, e ela se casou com ele do mesmo jeito.
A relação deles estava estremecida desde o casamento. Chloe sabia que Gabe não gostava de Oliver e ele suspeitava que Oliver também sabia. Eles ainda se falavam, trocavam emails, e tentavam agir como se as coisas estivessem normais, mas não estavam. Chloe queria Oliver e não importava o que seu pai pensava.
Ele achava que devia estar agradecido que ela o tenha colocado na lista de convidados do casamento. A primeira vez que ela se casou - brevemente com aquele fotógrafo que ele nunca conheceu - eles nem estavam se falando por causa de uma briga sobre os cuidados com sua mãe. Ele ficou sabendo do casamento por meio de outras pessoas.
Quando ela ficou noiva de Oliver, Chloe e Gabe já tinham superado esse problema, apenas para encontrarem uma nova onda de problemas. Uma nova onda de problemas chamada Oliver Queen.
Então, para piorar as coisas, Oliver havia se mudado com Chloe para o outro lado do país, Star City. E era por isso que só agora Gabe pôde vir conhecer seus netos. Ele provavelmente poderia ter vindo antes mas...
Não, ele deveria ter vindo antes...
Era culpa sua, não deles. Ele podia sentar e lamentar o fato de Oliver Queen ser seu genro ou ele podia seguir em frente, antes que perdesse mais tempo com os únicos netos que ele poderia ter.
E isso trouxe Gabe de volta para o presente. Parado na frente da enorme mansão, localizada numa comunidade bem fechada de Star City, com mais postos de segurança do que os aeroportos mais movimentados. O último guarda examinou até os brinquedos que ele trouxe para as crianças.
Que tipo de vida requeria tanta segurança? Só por ser um bilionário? Ou tinha algo mais?
Gabe não fazia ideia. Mas também, ele não sabia mais muito sobre a vida de sua filha.
Tirando a bagagem do porta-malas, Gabe subiu as escadas de pedra que levavam até as portas duplas da mansão. Portas que pareciam maiores do que toda a frente de seu condomínio.
Antes que ele pudesse encontrar a campainha ou bater, a porta se abriu e Gabe colocou os olhos em Oliver pela primeira vez desde que o casal havia ido até sua casa avisar que se mudariam para Star City, há mais de um ano atrás.
Além disso, Gabe só via Oliver na CNBC e na seção de negócios do jornal.
Nesse momento, no entanto, ele não parecia que estava indo para a CNBC.
Ele estava vestido casualmente com um jeans e uma camiseta verde. Ele estava descalço e tinha uma toalha amarela em um dos ombros.
"Oi", o jovem homem disse simplesmente.
"Oi", Gabe respondeu, com a mesma simplicidade. "Eu nem bati."
Oliver encolheu os ombros. "O segurança avisou assim que deixaram você entrar. Entre. Deixe eu pegar isso."
Gabe entrou no hall e deixou Oliver pegar a mala de sua mão. O hall era... estarrecedoramente grande. Gabe teve que se lembrar de fechar a boca.
"Como foi o vôo?" Oliver perguntou.
"Bem... obrigado."
"Nós poderíamos ter ido buscá-lo no aeroporto, sabe."
"Tudo bem. Eu não queria interromper a rotina com as crianças. Nessa idade, eu lembro que é um pouco difícil..."
Oliver assentiu. "Certo... falando nisso, Chloe está lá em cima. Estamos dando banho nas crianças", ele disse mostrando a toalha em seu ombro. "Eu vou ajudá-la a terminar de dar banho em Moira. Sempre damos banho nela primeiro já que ela fica malcriada à noite."
Gabe assentiu sentindo-se ao mesmo tempo feliz por saber desse pequeno detalhe sobre sua neta, e surpreso por Oliver compartilhar com ele. Que ele soubesse disso.
"E Connor", Gabe não resistiu ao desejo de perguntar. "Como ele é à noite?"
"Oh, ele é uma coruja... mas está melhorando."
"Mal posso esperar para conhecê-los."
"É, bem, é melhor eu ir lá ajudá-la... Você pode... uh, esperar mais confortavelmente na sala familiar. Eu levou sua mala lá pra cima."
Gabe assentiu e olhou ao redor do enorme primeiro andar. Sala familiar? Tinha um mapa? Um posto de informações em algum lugar? Ele olhou de volta para Oliver.
O jovem homem leu a pergunta em seu olhar. "Certo, desculpe... Seguindo o corredor. Terceira porta à direita, em frente a cozinha."
Gabe observou enquanto Oliver desaparecia carregando sua mala e seguiu as instruções até a sala familiar. Ele olhou as outras salas enquanto passava.
Era como uma daquelas casas maravilhosas de revista, ou como uma daquelas casas que eles sorteavam todo ano na HGTV, aquelas em que ninguém conseguiria de fato morar por causa dos impostos ultrajantes.
Sua filha vivia ali. Seus netos viviam ali.
A sala familiar era enorme. Ainda maior que a sala de estar. Havia sofás e cadeiras em todo lugar. Quantas pessoas frequentavam a casa normalmente pra eles precisarem de uma sala como essa?
Parecia que o lugar servia como sala de jogos também. Havia um cobertor no chão e um cesto perto de uma enorme cadeira cheio de brinquedos e chocalhos. Havia também dois assentos de bebês que tocavam música perto de um dos sofás. Eles não tinham essas coisas quando Chloe era bebê mas pareciam ser realmente importantes atualmente. Uma grande quantidade de amigos de Gabe tinha filhos e netos e pareciam estar sempre falando sobre itens para bebês. Novos assentos, travesseiros especiais, cadeirinhas de viagem. Era de enlouquecer.
Gabe se aproximou do cobertor e pegou um bichinho de pelúcia do cesto, virando-o em sua mão. Era um pequeno urso amarelo. Chloe não gostava de ursinhos quando era criança. Ela achava que eles eram assustadores. Ela preferia coelhos ou cachorrinhos.
Gabe percebeu um som na sala e caminhou em direção ao barulho. Era uma babá eletrônica, que estava em cima da mesa ao lado da grande cadeira. Alguém havia deixado ligada. Depois de um momento ele percebeu que podia ouvir Oliver e Chloe, que estavam presumivelmente no quarto dos bebês.
"Onde ele está?"
"Lá embaixo... Eu disse que ele podia esperar na sala familiar... é esse o cobertor que você quer que use?"
"Não... o amarelo... docinho, pára de se mexer... Ele disse alguma coisa?"
"Na verdade não... ele só parece um pouco chocado. Deve estar cansado da viagem. Ele disse que está ansioso para conhecer as crianças."
"...Eu vou dar banho no Connor. Quando você terminar de vestí-la, você leva ela lá pra baixo?"
"Levo... eu acho que ela está com fome..."
Chloe deu risada. "Ela está sempre com fome. Eu desço para alimentá-la o mais rápido possível. Eu a alimento primeiro já que ela parece estar cansada."
"Boa ideia... Escova?"
"No trocador... à direita."
"Encontrei."
"Ollie, me dá outra toalha, ele sempre faz uma bagunça no banho..."
O aparelho ficou mudo e Gabe se sentiu mal por ter escutado a conversa. Não era uma conversa particular... só relaxada. Normal. Gabe não sabia o que estava esperando de sua filha e seu marido, mas por alguma razão, normalidade não estava no topo da lista.
Sem querer se sentar novamente depois de ficar sentado no avião durante horas, e no tráfego de Star City, Gabe caminhou pela sala. Havia pequenos portarretratos espalhados. Não só de Chloe e Oliver. Tinha algumas fotos de uns homens que ele se lembrava do casamento. Os que Chloe havia apresentado como 'colegas de trabalho' de Oliver. Gabe não lembrava os nomes deles, mas se lembrava que a maioria deles era bem grande e meio intimidador. Chloe parecia se dar muito bem com eles, mas então, ela sempre teve mais amigos do que amigas.
Ele viu Clark e Lois em uma das fotos. Muitas das fotos pareciam ter sido tiradas na casa, e até mesmo naquela sala. Outras no quintal, e outras ainda na praia.
Havia também algumas fotos de Chloe grávida, algo que Gabe não tinha visto muito pessoalmente, uma vez que ela e Oliver se mudaram para Star City pouco depois que ela lhe deu a boa notícia. Ele esboçou um sorriso. Como sua filha minúscula havia carregado aqueles bebês, ele não sabia.
E havia também algumas fotos dos bebês, no colo de Chloe ou Oliver, e em algumas, no colo daqueles mesmos homens, Lois e Clark, Martha, e outras pessoas que ele não reconhecia.
Esses colegas de trabalho de Oliver estavam sempre por perto.
Gabe ouviu um barulho atrás dele e se virou para ver Oliver com um pequeno pacote nos braços.
"Aqui está", Oliver disse, sua atenção voltada para o bebê. "Acho que temos uns dois minutos para as apresentações antes que ela perceba que não está sendo alimentada e fique brava com nós dois. Chloe está terminando com Connor, e ela vai alimentá-la daqui a pouco. Essa é Moira."
Gabe só estava parcialmente ouvindo o que Oliver dizia, enquanto seus olhos se fixavam na pequena visão em seus braços. Cabelo loiro, grandes olhos verdes, a pele ainda avermelhada pelo banho, envolvida num cobertor amarelo, Gabe sentiu como se tivesse voltado no tempo, vendo sua própria bebezinha novamente.
"Wow, você parece com ela."
"É", Oliver respondeu com um pouco de orgulho. "Ela é maravilhosa. Parece com a mãe."
"Você não faz ideia..." Gabe respondeu, pensando nas fotos do bebê em sua mala. Ele estendeu as mãos. "Você acha que ela vai..."
Oliver assentiu e passou-a pra ele cuidadosamente. "Não ache que é pessoal se ela ficar irritada. Como eu disse, ela está com bastante fome."
Gabe ajustou o pequeno pacote em seus braços e sentiu seu peso. "Ela está maior do que eu imaginei."
Oliver estava tirando alguns brinquedos de bebês do sofá mais próximo para que pudesse se sentar. "O quê?... ah, é.. os dois estão com pesos bons por serem gêmeos. Eles dobraram o peso desde o nascimento, o que supostamente é uma coisa boa. Pelo menos foi o que o pediatra disse."
Gabe assentiu para Oliver. "Eles... dobraram, você disse?" Ele estava novamente surpreso com os pequenos dados sobre os bebês que Oliver estava lhe passando. Por alguma razão ele tinha dificuldade em imaginar o beberrão, mulherengo Oliver Queen em um consultório pediátrico.
Gabe se afundou no sofá e olhou para a criança novamente. Ela o observava intensamente e se mexia em seus braços, enquanto tentava ficar mais confortável. Ele arrumou o jeito como a estava segurando, deixando-a mais sentada. Fazia muito tempo desde que ele tivera um bebê em seus braços, ainda mais nessa idade. Ela chorou um pouco, então se acalmou.
"Oi bebê", ele disse, sentindo-se meio estranho em falar com a criança com Oliver olhando, tão perto. "Você é muito linda. Você parece com sua mamãe nessa idade."
O bebê fechou os punhos em resposta e Gabe os pegou em sua mão. "Ela está muito bem considerando que sou um estranho", ele disse a Oliver depois de um momento.
"Os dois estão acostumados em ter muita gente por perto. Eles passam bastante de mão em mão."
Gabe relembrou as fotos e engoliu um pouco da amargura em saber que os 'colegas de trabalho' de Oliver passavam mais tempo com seus netos do que ele. Bem, ele tinha que consertar isso, certo?
"Nada os perturba, além de não serem alimentados quando estão com fome", Oliver continuou e como se ela compreendesse o que ele estava falando, Moira soltou um som irritado e chutou frustrada com suas perninhas.
"E acho que estamos nesse momento..."
"E parece que eu cheguei bem na hora..."
Gabe olhou pra cima, ao som da voz de sua filha e a viu entrar na sala com outro pacotinho em seus braços, esse num cobertor verde. "Chloe..."
"Oi, Pai. Como foi o vôo?"
Ela estava sorrindo e balançando o bebê levemente. Como Oliver, ela não usava sapatos e estava vestida casualmente, num jeans e uma camiseta folgada, vermelha e sem mangas.
"Bem, bem..." ele respondeu, sentindo-se um pouco idiota ao ver sua filha com o bebê nos braços. Tudo de repente pareceu... mais real. "Você está maravilhosa, querida."
Moira chorou novamente e desta vez o choro se estendeu.
"Obrigada, eu preciso pegá-la porque ela realmente precisa comer."
"Claro, aqui está..."
Chloe passou o menino - Connor - para Oliver e se inclinou para pegar a agora chorosa Moira de suas mãos.
"Está tudo bem, docinho, estou aqui", Chloe murmurou para a criança e se sentou na grande cadeira.
Gabe a observou atentamente enquanto ela pegava um outro cobertor da mão de Oliver sem olhar pra ele e jogar sobre si mesma. "Você não se importa, não é pai?"
Gabe percebeu que ela estava perguntando se ele se incomodaria dela alimentá-la ali e então ele percebeu que não havia lhe ocorrido que ela ainda estava amamentando. Ele na verdade não tinha pensado muito nisso.
"Não, claro que não... eles precisam comer."
Chloe ajustou a garotinha embaixo do cobertor e ela se acalmou imediatamente. "Pai, você quer comer alguma coisa? Nós acabamos de jantar mas podemos aquecer alguma coisa pra você."
"Não, não estou com fome, eu comi no vôo."
"E alguma coisa pra beber? Temos água, suco, refrigerante, e chá gelado, ou Ollie pode fazer café."
"Chá gelado está ótimo... eu pego..."
"Não, senta. Eu pego", Oliver respondeu. "Você pode se apresentar a esse garotinho aqui." Ele se inclinou e passou o bebê para seus braços. "Este é Connor. Você vai ver que ele é mais tranquilo que a irmã essa hora da noite."
Chloe riu. "Não por muito tempo. Quando ele perceber que ela está comendo e ele não, ele vai ficar bem bravo."
Gabe estava pouco atento a troca de um olhar divertido entre os dois enquanto ele olhava para o bebê. Outro par de olhos verdes piscaram pra ele. Ele ajustou o pacote em seu colo e observou o pequeno garoto. Ele parecia um pouco com Chloe mas Gabe tinha que admitir que ele provavelmente se parecia mais com Oliver. Especialmente o queixo. Ele ia comentar mas Oliver já tinha saído para a cozinha deixando-o sozinho com Chloe pela primeira vez em muito tempo.
"Ele parece com o pai", Gabe disse, indicando o pequeno bebê com a cabeça.
"Eu sei."
"Eles são lindos, Chloe. As fotos que você mandou... não chegam nem perto."
"Bem, que bom que você veio vê-los pessoalmente, não é?"
Ela não disse a palavra 'finalmente' mas ela ficou no ar do mesmo jeito, então ela poderia ter dito. Eles ficaram em silêncio por um tempo, os únicos sons na sala vindos dos bebês.
Connor pegou a ponta de seu casaco, chamando sua atenção de volta para o garoto.
Ele sorriu e o garotinho sorriu de volta. Sem dentes e modestamente.
"Eles devem dar bastante trabalho. Vocês têm alguma ajuda?" Gabe se lembrava vagamente quanto trabalho um bebê havia dado a sua mulher. Ele não podia imaginar como seria cuidar de dois.
"Nós temos uma pessoa alguns dias da semana para ajudar a lavar a roupa, limpar e cozinhar, assim eu posso descansar um pouco. Ela é uma senhora já, muito boazinha. Ela foi altamente recomendada..."
Um olhar distante cruzou o rosto de sua filha e ela sorriu pra si mesma antes de continuar. "Você vai conhecê-la na segunda. Nos fins de semana, Oliver está aqui e nós conseguimos dar conta. Era difícil no começo, mas agora que conseguimos estabelecer uma rotina, está bem mais fácil. Assim que eles comerem, eles vão dormir quase a noite inteira e podemos descansar."
Oliver retornou com uma garrafa de água em uma mão e um copo de chá na outra. "Não fale em voz alta, eles vão ouvir você", ele avisou brincando, passando a água pra ela.
Chloe balançou a cabeça, seguindo Oliver pela sala com os olhos enquanto ele ia entregar o chá para Gabe.
"Oliver insiste que eles conspiram quando estão no berço durante a noite."
"Linguagem de gêmeos, não subestime. Na primeira semana que eles estavam em casa, um acordava literalmente segundos depois que o outro dormia. Isso não é coincidência, é conspiração. Nós vamos precisar tomar cuidado com esses dois."
Chloe piscou pra ele. "Por alguma razão não acho que isso vai ser um problema", ela disse cautelosamente.
Gabe observou a conversa atentamente, certamente ele estava perdendo alguma coisa, mas decidiu deixar pra lá.
Apesar da abundante quantidade de assentos na sala, Oliver se sentou no chão, perto da grande cadeira, suas costas contra as pernas de Chloe.
"Martha concorda comigo", Oliver pontuou, virando o pescoço para olhar para Chloe.
Chloe fez um barulho satisfeito e correu os dedos pelo cabelo dele com sua mão livre. "Martha sempre concorda com você. Isso é porque todo mundo concorda comigo, e ela não quer que você fique sozinho."
"Ah, é mesmo?"
"Martha vem muito aqui?" Gabe mais declarou do que perguntou. Pelas fotos que ela havia lhe mandado por email, tudo o que ela sabia sobre os gêmeos, e as fotos dela na sala, a resposta era clara. "Como ela encontra tempo?"
"Ela cria tempo", Chloe respondeu suavemente. "E estamos felizes por isso. Moira e Connor praticamente não têm avós por perto. Ela faz um trabalho excelente como avó honorária."
Gabe não respondeu a provocação velada. O que ele poderia dizer? Ele sabia que os pais de Oliver estavam mortos e a mãe de Chloe... O silêncio se instalou de novo e Gabe vasculhou seu cérebro em busca de um assunto que não causasse mais tensão.
"Eu... uh... ouvi dizer que Lois e Clark estão noivos. Será que eles a farão avó logo?"
Chloe e Oliver trocaram olhares e Chloe balançou a cabeça. "Provavelmente não tão logo. Você conhece Lois. Ela diz que a melhor parte de ser tia é pegá-los emprestados e poder devolvê-los."
"Tia? Ela sabe que..."
Chloe revirou os olhos. "Eu sei, prima. Ela não liga. Ela insiste que é tia. Está tudo bem, nós usamos os termos 'tia' e 'tio' muito por aqui. Nem Oliver nem eu temos irmãos, então está tudo bem."
Gabe assentiu e se ocupou se distraindo com o bebê em seu colo.
Chloe interrompeu seus pensamentos depois de algum tempo. "Ollie, ela está quase dormindo, você pode me dar o Connor e pegá-la? Senão ela vai me tratar como um restaurante aberto a noite inteira."
"Pego." Oliver cruzou a sala e pegou Connor dos braços de Gabe. Ele e Chloe então fizeram a troca com tanta facilidade que Gabe desconfiou que eles a faziam várias vezes por dia. Connor estava rapidamente no colo de Chloe para comer enquanto ele tinha a quase adormecida Moira enrolada contra ele.
"Não esqueça de colocá-la para arrotar", Chloe avisou. "Ela comeu muito rápido."
"Eu também vou checar aquela outra coisa", Oliver disse a Chloe e ela assentiu.
Outra coisa? Do que eles estavam falando que tinham que esconder?
Oliver deu tapinhas nas costas de Moira por um momento enquanto deixava a sala e ela soltou um surpreendentemente alto arroto que ecoou de volta na sala familiar, assustando Gabe.
Oliver riu. "Passando muito tempo com seu tio Bart, eu acho."
"Tio Bart?" Gabe perguntou a Chloe, quando Oliver e Moira saíram.
"Amigo nosso, você o conheceu no casamento."
"Outro colega de trabalho de Oliver?"
"É, um dos padrinhos. Sapatos vermelhos." Chloe o lembrou, ajustando o cobertor sobre Connor.
"Certo", Gabe relembrou. Garoto baixinho, precisava de um corte de cabelo. Comeu três entradas.
A babá eletrônica soou com Oliver falando alguma coisa inaudível para o bebê no quarto deles. Chloe sorriu por um momento antes de desligá-la.
"Ele... Oliver parece te ajudar bastante com os bebês." Gabe disse cuidadosamente.
"Eu perguntaria o que você esperava mas não sei se quero saber a resposta", Chloe respondeu, a dureza em sua voz de volta.
"Honestamente eu não sabia o que esperar."
"Isso é por culpa sua, não dele."
"O que você quer que eu diga? Eu não posso ser o único que tinha dúvidas sobre o tipo de marido e pai que Oliver Queen seria."
"Na verdade, você é. Qualquer pessoa disposta a conhecer Ollie nunca duvidaria dele. Mas sabe, na verdade não importa. Você veio pelas crianças, não por ele. Ou por mim."
"Isso é ridículo. Eu vim ver todos vocês." Ok, talvez não todos eles, mas certamente ele queria ver Chloe.
Chloe riu sem graça. "Se isso fosse verdade, você teria vindo antes."
"Chloe..."
"Pai, não. Por favor, não. Não vamos deixar isso mais difícil do que precisa ser. Eu quero que você desfrute o tempo que vai passar com Moira e Connor. Eu quero que eles saibam que você se preocupa com eles. Além disso, não esperamos nada mais de você."
"O que você quer dizer?"
Chloe mexeu o pequeno corpo de Connor em seus braços. "Ollie não precisa da sua aprovação. Eu não preciso da sua benção. Você tem direito a ter suas opiniões, se é o que importa pra você. Apenas as mantenha guardadas enquanto estiver em nossa casa."
Apesar de sua intenção anterior de não reagir assim, Gabe se encontrou na defensiva. "Minhas opiniões não importam pra você há muito tempo."
Chloe suspirou. "É isso que você pensa? Que sua opinião não importa? Pai, se sua opinião não importasse, eu não estaria tão triste com essa situação há tanto tempo. Mas eu não tenho mais tempo nem energia pra ficar chateada. Então, não estou mais."
"Eu nunca quis te deixar triste."
"Realmente, sabendo que você não estava tentando e mesmo assim você conseguiu. Mas, como eu disse, nada disso importa mais. Eu sou mãe agora. Eu preciso me concentrar no tipo de mãe que eu quero ser, não no tipo de pai que eu quero que você seja."
Gabe ficou paralisado. De todas as coisas que ela poderia ter dito...
Era uma coisa aceitar que ela não se importasse com sua opinião sobre Oliver. Doía mas ele já tinha se acostumado. Agora parecia que... ela não se importava com mais nada...
Ele não sabia o que dizer. Então não disse nada. Ele só a observou abraçar Connor enquanto o alimentava, ocasionalmente sorrindo para o bebê e brincando com seus dedos.
Finalmente, quando parecia que ela tinha decidido que o garotinho já estava cheio, ela o colocou em seu ombro para arrotar, e riu quando ele emitiu um barulho ainda mais alto que o de sua irmã.
Quase como uma ideia pensada anteriormente, ela se virou pra ele. "Pai, está cansado da viagem?"
Ele sentiu que não era realmente uma pergunta. Ele assentiu. "Um pouco."
"Arrumamos um quarto de hóspedes pra você", ela se levantou. "Vamos, Connor. Vamos mostrar o quarto para o avô."
Enquanto ele a seguiu pela casa e subindo as escadas, percebeu que era a primeira vez que era chamado de 'avô'. Por alguma razão não soou como ele esperava.
___________________________________
Fim do Capítulo Um. Capítulo Dois.
___________________________________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário