16.3.11

LEGENDS: This Is How Angels Wept

TítuloÉ Assim Que Anjos Choram
Resumo: Nem todas as missões de vingança bem sucedidas acontecem de acordo com o plano.
Autora: tennysonslady
Classificação: PG-13

Histórias anteriores:
This Is How Marriages End
This Is How Families Grow
This Is How Friendships Last
This Is How Oliver Survives
This Is How Lois Becomes
This Is How Shadows Conceal
This Is How Mothers Talk
This Is How Walls Crumble
This Is How Lives Begin
This Is How Hearts Soar
This Is How They Choose
This Is How She Avenges



Até onde ela conseguia se lembrar, a mãe de Regina Queen chorava.

Isso não devia ser confundido com Chloe Sullivan chorando o tempo todo, todo segundo enxugando as lágrimas ou soluçando histericamente num canto da casa. Não, Chloe Sullivan era impassível, sem expressão até. Mas toda vez que Regina a via, mesmo quando ela estava em silêncio, mesmo quando ela sorria, Regina podia ver direto em sua alma e sabia que Chloe Sullivan chorava. Quando Regina passava pelo quarto solitário -- que era sempre frio apesar da noite quente da Califórnia -- ela ouvia o silêncio de sua mãe, o choro abafado, e Regina sabia naqueles momentos silenciosos que Chloe Sullivan chorava.

Quando era criança ela ia para a cama de sua mãe, a abraçava com força, pode-se dizer que a assegurava -- mesmo Regina realmente não tendo direito ou poder de mudar o jeito que as coisas eram -- que tudo ia ficar bem.

Naquela época, Regina conseguia se lembrar, Tom já tinha ido para Moscou. A nuvem de tristeza tomou conta de sua mãe desde o dia em que tio Tom passou o dia inteiro e a noite sem tirar o rosto de Oliver Queen. Pouco tempo depois disso, Chloe a colocou na porta de uma larga, grande torre cheia de computadores e rodeada de belos vitrais.

No dia anterior sua mãe tinha partido, Regina viu pela primeira vez o brilho das lágrimas de sua mãe.

"Reggie", sua mãe disse seu nome. Ela era tão jovem pequena naquela época, mas Regina se lembrava da conversa mesmo quando tinha esquecido todas as história lidas antes de dormir e cada cantiga de ninar. Depois de tudo, todas as noites depois disso ela viveu com o adeus de sua mãe. "Eu dei seu nome em homenagem a ele, sabe. Mesmo quando achei que ele tinha me traído, eu te dei esse nome. Porque eu o amava."

E ela era tão pequena para questionar. Regina era tão pequena para confrontá-la.

"Eles vão te contar tudo sobre seu pai, ok? Escute o que eles vão dizer. Ouça as histórias e sempre se lembre de mim."

E com essas palavras Chloe Sullivan foi embora de sua vida pra sempre.

Melhor assim. Nos meses e anos que se seguiram, com cada detalhe que Regina aprendia, ela amava seu pai ainda mais. Foram os contos de Impulse sobre resgates lendários, as descrições de Aquaman sobre como ele liderava o time, as fotos de Dinah que mostravam sua beleza e força e o loiro com quem Reggie parecia enquanto crescia, as histórias de Victor sobre sua inteligência e sagacidade. Tess evitava falar sobre ele. Ela achava que a ruiva que comandava o computador não tinha nada a dizer. E então uma vez, numa das reuniões noturnas quando Clark mencionou o nome de seu pai Regina viu um brilho no rosto de Tess.

"Ele foi o melhor -- o melhor de todos eles", Tess finalmente admitiu. "Você o teria amado. Sua mãe realmente o amou."

Chloe Sullivan o amou tanto que trocou sua vida pela dele, o amou tanto que lhe deu as costas e o matou. Tudo porque ela o amava.

Regina não entendia como isso podia ser amor.

Mas um amor ela entendia. Não era o amor que Chloe dizia sentir por sua filha. Depois de ter dito que a amava, Chloe Sullivan deu as costas pra ela e foi embora.

Um amor Regina entendia. O amor que fez Tom entrar na Watchtower, o amor que lhe deu força para encarar e passar pelos membros da Liga da Justiça que o viam como um inimigo. O amor que Tom tinha em seus olhos quando ele se ajoelhou diante de Regina e pegou sua mão -- o tipo de amor que era gentil e envergonhado ao mesmo tempo.

"Sua mãe não vai voltar, querida", Tom disse a ela, colocando em suas mãos o anel que sua mãe usava e que dizia ao mundo que ela havia se casado com seu pai. Havia um nó em sua voz, Regina lembrava, como se o ar fosse arrancado quando ele mais precisava. Abruptamente ele desviou o olhar para fitar o chão. E então ele se recompôs, por causa do amor, Tess disse a ela depois -- sua observação enquanto os assistia à distância. Ele olhou de volta para Regina, dentro de seus olhos. "E eu juro que ela ia voltar pra você. Ela salvou minha vida em Moscou, e eu jurei que te levaria se você quiser."

Esse era o amor que Regina entendia. O amor que salvava, que cumpria as promessas. Amor não era abandono, não era matar. Chloe Sullivan reservou todo seu amor para outra pessoa.

De volta a quando era criança, ela se afastou de seu toque como se ele não fosse o homem com o qual ela tinha crescido e conhecido como pai.

Regina se agachou no telhado, monitorando as chegadas e saídas do edifício. Tess tinha dito que sua mãe era um gênio, antes de se juntar ao Esquadrão Suicida. Bom, Tess realmente não tinha um bom julgamento. O esconderijo de Chloe Sullivan era de fato impressionante. Mas depois de alguns dias a observando, foi fácil identificar que essa era sua Watchtower desse tempo.

Victor veio. AC também. Clark visitava de vez em quando. E embora seus olhos não fosse treinados o suficiente para vê-lo entrar e sair, Regina tinha certeza que Bart era um visitante frequente. E então Dinah veio, com um garotinho de cabelo loiro a tiracolo. Com seus binóculos Regina os observou de sua posição quando Chloe Sullivan pegou o garoto e o abraçou com força. E ela xingou seus péssimos binóculos -- a névoa em seus olhos não eram lágrimas -- por não a deixarem ver direito. Chloe o girou ao redor e tirou um pequeno dinossauro de plástico da gaveta, dando risada enquanto o garoto pulava, deu um beijo no alto de sua cabeça como Regina não se lembrava dela lhe ter feito.

Ela lambeu os lábios. Logo seu tempo terminaria, e Tess e Emil encontrariam um jeito de levá-la de volta para seu espaço no tempo. Antes disso ela teria sua vingança.

Regina a veria sangrar.

Ela podia ter tido um pai, um pai de verdade. Ela podia ter crescido com um homem que não arrancaria o rosto de outra pessoa. Além disso, talvez ela tivesse uma mãe que não chorasse o tempo todo como seu sua vida fosse um inferno na terra, uma mãe que não fosse embora morrer por outra pessoa.

Talvez ela não tivesse que assistir em silêncio, sem culpa, enquanto pensava nos vários jeitos que ela gostaria de assistir Chloe Sullivam morrendo enquanto segurava um garotinho que ria e se contorcia em seus braços.
Regina deslizou a faca dentro da bota, então checou suas pistolas uma de cada lado da cintura. Ela estreitou os olhos com a profundidade da queda para a rua. Regina pulou, pousando sobre os pés e os joelhos dobrados. Era uma das coisas que ela havia aprendido com Dinah. Que sorte isso acontecer no dia em que ela decidiu agir, era Dinah dentro da Watchtower. Ela sabia cada movimento de luta e defesa da mulher.

Quando ela se endireitou, puxou a barra da jaqueta verde para arrumá-la. "Isso é por você, pai", ela sussurrou relembrando e odiando o fato de que o rosto que ela se lembrava era o de Tom disfarçado de Oliver Queen. Ela não conseguia lembrar como eram precisas as máscaras que ele usava.

Ela atravessou a rua, se esgueirou pelo beco e parou na janela. Muito cuidadosamente, em silêncio, Regina abriu uma entrada suficiente para ela passar pelos vidros e entrou.
Bem ali, no meio da Watchtower, estava Chloe Sullivan.

E sua garganta coçou para chamar sua mãe.

A mulher parecia exatamente a mesma do dia que tinha lhe dado as costas e partido, o dia que jurou que amava Regina, quando ela decidiu que salvar Nêmese era mais importante do que ficar com sua filha. Desde o dia em que Tom passou o dia inteiro com ela como Oliver Queen, sua mãe nunca mais foi a mesma.

Chloe parou no computador. O jeito que os ombros de Chloe enrijeceram e ela ergueu a cabeça, Regina sabia que sua mãe tinha percebido outra presença na sala. Antes de olhar pra ela, Chloe olhou disfarçadamente na direção da porta onde sabia que Connor e Dinah esperavam. Mesmo agora ela pensava primeiro nas outras pessoas antes de achar que valia a pena perder tempo pra olhar pra ela.

"Eu estou bem aqui", ela disse num sussurro desafiador. Regina inclinou a cabeça para o lado. Ela odiava o olhar que sua mãe tinha agora no rosto, como se seu cérebro estivesse correndo para encontrar um jeito de não deixá-la saber o que ela já sabia. "Não pense neles ainda", ela advertiu. "Eu estou aqui por você, Chloe."

Chloe analisou seu rosto, e Regina lembrou como Tess disse que ela parecia com seu pai. Regina não podia dizer se era realmente verdade. Afinal, ela mal se lembrava dele.

Antes que Chloe pudesse responder, Regina se abaixou e pegou a faca. Em menos de um segundo ela a atirou contra Chloe Sullivan. Sua mãe reagiu rapidamente, se escondendo atrás do computador. A faca atingiu a parede. Ela teria que pegá-la. Tinha sido um presente de Canário pra ela. A Canário de seu mundo, pelo menos. A daqui tinha se tornado um fraca por causa de um garotinho que parecia achar que Chloe também era sua mãe.

"O que você quer?" Chloe questionou escondida atrás do computador.

"Eu tenho um placar pra empatar", Regina respondeu. Ela precisava manter a simplicidade. Ela odiava longa exposições. Sua faca estava longe, e uma arma precisaria entrar em ação. Essa Dinah tinha sido estúpida o suficiente para se tornar uma mãe que ainda podia entrar facilmente na Watchtower e abrir a boca.

Regina disparou numa corrida e agarrou o ombro de Chloe, jogando-a no chão. Chloe arfou sob ela. Ela esperava que ela jogasse as mãos para tentar afastá-la. Regina havia mentalmente se preparado para aquele toque. Ao invés disso, sua mãe jogou os braços ao redor da barriga num gesto protetor. Regina olhou entre elas. Seus lábios se partiram com o que viu.

Quase sempre quando ela a observava a distância, nas ruas Chloe estava sempre agasalhada, pelas janelas ela só via uma parte dela. Regina piscou, então se levantou e se afastou de Chloe tão rápido que quase bateu em uma coluna.

Chloe ergueu um pouco o tronco do chão, seus olhos agora molhados com as lágrimas, e Regina se odiava por estar de repente sentindo pena dela. Ela se perguntou se Chloe estaria sentindo dor.

"Não os machuque. Seja lá o que você quiser, podemos conversar", Chloe pediu. "Sempre podemos conversar", ela disse, como se acreditasse nisso, como se tudo dependesse de uma conversa.

Para o inferno com suas mentiras. Ela não conversou com ela quando decidiu deixar sua filha com a Liga da Justiça e ir morrer em Moscou.

"Só não machuque os bebês."

Regina olhou para o arco na mesa não muito distante dali. Era um sinal, ela pensou. Seu pai tinha lhe deixado um sinal. Diziam que sua habilidade era inata, um presente do pai que ela nunca conheceu. Dentro de poucos momentos o peso do arco estava em suas mãos. Ela puxou a corda, posicionando-a entre seus dedos, imaginando se o cheiro que sentia era o perfume de seu pai.

A porta começou a se abrir de repente. Chloe se virou com olhos arregalados na direção. Regina olhou também.

"Não", Chloe gritou.

Regina curvou os lábios. O garotinho que achava que essa mulher era sua mãe. Aquele garotinho cujo coração ia sangrar quando Chloe Sullivan o deixasse pra trás, como ela seria obrigada a fazer.

"Por favor."

Ela lançou a flecha, a ponta enterrada e gritando cuidado a cada um que ameaçasse entrar. Chloe estava de pé agora, oscilando um pouco e Regina tinha que concluir que talvez houvesse mais efeito em seu ataque.

"Obrigada", Chloe sussurrou. A palavra perdida no ar entre as duas.

"Eu não fiz por você", Regina rosnou a corrigindo.

"Não importa. Você deixou Connor de fora."

A mão pálida de Chloe descansou sobre a barriga. O diamante brilhando, chamando a atenção de Regina com o movimento. Eles tinham tudo que a ela foi negado, tudo que ela perdeu, tudo que ela deveria ter tido se sua mãe tivesse agido diferente. Regina piscou para afastar as lágrimas que surgiam em seus olhos. Ela lentamente preparou outra flecha e colocou seus olhos na mulher. E sussurrou. "Eu queria que você soubesse a razão pela qual você vai morrer."

Regina ignorou o jeito como os olhos de Chloe se fecharam. Ao invés disso ela olhou para a ponta da flecha, pronta para ser lançada.

O barulho foi como uma explosão. A porta dos fundos se abriu e os alarmes soaram ao redor. Logo eles chegariam como formigas, encheriam a Watchtower como faziam em situações de ameaça. Regina tirou a flecha da posição no segundo que uma mão enluvada agarrou seu ombro e a girou. Ela ignorou o grito atrás dela. Ela congelou quando encarou o homem em sua frente.

Ele usava couro verde brilhante, seu capuz cobria a cabeça, seu rosto meio escondido pelos óculos escuros. Tess estava certa, ela pensou. Seu rosto era esculpido, as linhas angulares e bonitas e ela entendia porque todos se lembravam dele com carinho. Ele era um heroi saído dos sonhos. "Papai", ela arfou. E por um segundo ela era criança novamente, parada naquele playground olhando para o outro lado, esperando por Tom em seu outro rosto. Por um breve momento ela era uma garotinha sendo abandonada na Watchtower, ouvindo Tess lhe contar histórias sobre o Arqueiro Verde. Ela jogou as mãos ao redor do pescoço dele, abraçando-o com força. "Papai!" ela repetiu, feliz que não tenha sido uma perda de tempo, que dessa vez ela salvaria seu pai.

Diferente de todas as tentativas que ela havia feito de voltar ao passado, todas as vezes ela assistiu sua mãe entrar naquele quarto e esvaziar uma arma em Oliver Queen.

Regina tinha sonhado com isso por tanto tempo, ela sabia que a próxima coisa que ela sentiria eram os braços fortes a envolvendo. Ao invés disso, o Arqueiro Verde a segurou pelos braços e a jogou contra a parede. Ela caiu no chão, tonta, se recuperou e se levantou. O Arqueiro Verde ficou parado ali e tirou o capuz, removeu os óculos que escondiam seus olhos.

A porta da frente do escritório se abriu, e Regina se encontrou olhando para Oliver Queen. Quando Dinah e uma criança entraram atrás dele, o Arqueiro Verde levantou uma mão em alerta. "Cubram os olhos dele!" o Arqueiro Verde gritou, e sem hesitar Oliver empurrou o garoto nos braços de Dinah e os fez sair dali.

Chloe Sullivan se levantou. Regina olhou para o braço sangrando. Pele ferida, ela reconheceu. O Arqueiro Verde, que parecia com seu pai mas agora se via que não era, foi até Chloe Sullivan e cobriu a ferida com uma roupa que ele tirou do nada.

"Connor", Regina a ouviu dizer em reconhecimento.

Regina observou Oliver Queen se aproximar do jovem. Em mórbida fascinação ela assistiu Oliver Queen checar a ferida de sua mulher, então pegou Connor e o abraçou, de um jeito que fez sua garganta apertar, ficando difícil de respirar.

E então o Arqueiro Verde estava em cima dela - vagamente ela percebeu que esse poderia ter sido seu irmão -- talvez, de algum jeito -- até ela ter perceber que em seu mundo seu pai nunca se casou com a mãe dele. Esse irmão que nunca foi irmão, esse homem que seria responsável por sua morte. A mão dele se apertou em seu pescoço. O polegar e o indicador pressionando os lados de sua garganta. Sua visão escureceu.

Ela ia morrer, e nunca conseguiria abraçar seu pai.

"Eu fui atrás de você por todo universo, Reggie", ele disse, de um jeito familiar e amargo que ela reconheceu o quanto isso significava pra ele, quanto tempo ele demorou até alcançar seu objetivo. Talvez o mesmo tempo que ela demorou para encontrar um jeito de vingar seu pai. "Eu não ia deixar você transformar minha vida no que ela se tornou depois que você matou meu irmão e minha irmã."

Ela lutou sob sua mão. Ele era muito mais forte, ela pensou. Seus olhos pararam na cicatriz que corria do canto de um olho até o lábio superior.

"Eu não vou usar a arma enquanto não for necessário", ele falou. "Não porque você tem esse temperamento e uma visão errada do passado. Eu não quero saber se você também é filha dele. Eu não vou deixar você destruir minha vida."

E não era tão absurdo que seu futuro lhe permitisse, como ela mesmo estava fazendo, procurar as raízes do problema, a causa do sofrimento. Somente em seu futuro, Connor a tinha identificado.

O aperto dele ficou mais fraco. Regina olhou para a mão que Connor ergueu, a mão que despareceu entre eles.

"Você está maluco!" ela devolveu. "Se você mudar seu passado, você não vai existir!" De qualquer outra forma, em um mundo que era normal e não deles, isso podia ser interpretado como uma irmã dando uma bronca no irmão mais novo. Mas o jeito que ele estava desaparecendo salvou sua vida.

Sua figura estava transparente, quase. Ele olhou de volta para Chloe, que se apoiava em Oliver. Ele lhe deu um pequeno sorriso. "Melhor assim do que a vida que você ia me dar, Reggie." E então, ele caminhou na direção de Chloe e seu pai. Regina observou enquanto ele desaparecia a cada passo. Ele estava fino como uma fumaça quando os alcançou. Oliver estendeu a mão mas ela atravessou o ar. Connor era uma névoa quando deu um beijo no rosto de sua tia.

E então eles se viraram pra ela. Regina arfou enquanto recuperava o fôlego, esfregando o pescoço enquanto se recuperava do ataque de Connor.

Seu coração apertou quando Oliver deu um passo, ficando entre ela e Chloe Sullivan. Mas ele estava mais perto da mulher, infinitamente mais perto quando Regina tinha vivido sem conhecê-lo.

"Papai", ela disse novamente.

Ele estreitou os olhos. A mandíbula travou. Ele não cedeu.

Seus olhos se encheram de lágrima. "Papai, eu só queria salvar você."

Ele cerrou os punhos. Regina viu sua reação. Ele balançou a cabeça bem suavemente. "Vá pra casa", ele disse numa voz séria. Regina deu um passo pra frente. "Volte, Regina. Volte enquanto eu me lembro como você era dormindo no colo de sua mãe."

Ele lembrava. E então, como se de repente sua visão estivesse clareando, Regina pensou na noite que Tom se recusou a tirar o rosto de seu pai. Foi bem antes de Chloe Sullivan abandoná-la. Ela fechou os olhos com força.

"Não muda o fato de que ela matou você", ela sussurrou.

Quando ela abriu os olhos, seu pai estava de costas pra ela. Cuidando da ferida que ela havia causado.

"Papai, por favor..."

"Ollie", ela ouviu a suave, dolorosa voz. Era dela. Era Chloe Sullivan.

E finalmente, Oliver se virou e foi na direção dela. Regina tremeu em antecipação. Oliver parou em sua frente. Ela soluçou com o choro preso na garganta, então jogou os braços ao redor do corpo de Oliver. Regina respirou fundo, fundo o suficiente para absorver o cheiro dele que preencheria todo o vazio dos anos que havia passado sem ele, fundo o suficiente para memorizar seu cheiro pelos muitos anos que estavam por vir. E então, relutantemente a princípio, Oliver passou os braços ao redor dela.

"Eu senti sua falta", ela sussurrou. Regina tinha dito isso a seu pai incontáveis vezes em seus sonhos. A sensação era exatamente a mesma. "Eu amo você", ela disse.

"Você não sabe tudo", seu pai disse em seu ouvido. "Se tem uma coisa que você precisa saber, se tem uma lição que você pode aprender de mim, é isso. Você não sabe tudo, Reggie."

Quando ele se mexeu para soltá-la, Regina o apertou por mais algumas centenas de batidas. E então ela o soltou.

"Sua mãe amou você", ele disse. Ela olhou na direção da mulher que queria matar desde que se lembrava. Regina desviou os olhos. "Você ouviu sobre seu pai da Liga da Justiça?" Quando ela assentiu, ele continuou. "Então aprenda sobre sua mãe por Tom. Você tem idade suficiente para compreender; você tem idade suficiente para aceitar a verdade. Você vai se olhar no espelho um dia e vai vê-la." Sua voz ficou mais terna. "Vá para casa e descubra."

"Os dois estão mortos", ela sussurrou. "Não importa mais."

Seus braços ficaram arrepiados quando ele segurou seu pulso. "Os dois estão mortos?" Regina assentiu. "Então importa ainda mais que antes. Importa porque você é a única coisa que eles deixaram. É por isso que importa que você volte pra casa e faça a diferença naquele mundo."

O olhar de Regina vagou na direção de Chloe, que parecia como se quisesse ter um momento com ela, tê-la nos braços do mesmo jeito que Regina queria abraçar seu pai. Mas ao invés, Regina olhou para o dispositivo que tinha pêgo de Tess. Para seu pai, ela disse. "Eu vou fazer você se orgulhar, papai." Ela ficou em silêncio quando se virou mais uma vez na direção de Chloe Sullivan, antes de se teletransportar de volta para a escura Watchtower.

Regina ficou parada na sala vazia. Era fria, e ela passou os braços ao redor do corpo, respirando e desejando ainda sentir o cheiro de seu pai. Mas o cheiro havia ido embora tão rápido quanto o rosto dele desapareceu. Regina olhou para seu reflexo no espelho. Ela puxou o cabelo para trás, então atravessou a sala. O silêncio que a rodeava era ensurdecedor. Finalmente ela entrou no quarto, e caminhou até a cômoda. Ela colocou o dispositivo de viagem em cima dela. Regina esfregou o pescoço distraidamente. Seu irmão bastardo quase a havia matado antes de desaparecer.

E seu pai teria mais dois bebês -- um irmão e uma irmã, Connor disse em sua fúria. Ela imaginou se ao menos eles já sabiam disso antes do momento de fúria de Connor. Eles seriam lindos. Eles teriam Chloe e seu pai. Completamente. Sem complicações. Eles eram as crianças mais sortudas do mundo.

Regina se abaixou e pegou alguns itens que tinham caído no chão. Ela viu o brilho sob a cômoda e estendeu a mão para pegá-lo. Sua mão se fechou sobre o metal. Regina sentou em sua cama desfeita e olhou para o anel em sua mão.

Quinze anos atrás Tom havia retornado de Moscou e lhe dito que Chloe estava morta, fechou sua mão sobre o anel que mentia para o mundo. Mas a mentira não existia mais, estava esquecida, nunca importou. Eles tinham ido embora -- os dois. Oliver Queen e Chloe Sullivan, e não importava nem um pouco para quem ficou pra trás se eles se casaram, nem se Chloe o matou. Regina era a única coisa que sobrou dos dois. Ela fechou a mão com força ao redor do anel de casamento.

Tudo o que importava agora é que eles tinham ido embora.

Ela ficou pra trás.

Apenas ela.

Regina se deitou cansada, apertando o anel e deixou escapar um soluço. Sozinha, na vazia Watchtower, abandonada e orfã, imperdoável para um último abraço.

Era assim que uma orgulhosa Queen chorava.

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3 comentários:

  1. *****sem palavras*****

    como eu amo essa série... que textos lindos essa autora escreve...

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  2. Wow!

    Vou ler de novo, por que é meio difícil, mas...Wow

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