Voyeurismo (1/?)

Nota: Pessoal, tenho o prazer de apresentar uma nova autora que passa a compartilhar seus textos aqui no blog, a Clara. Ela escreveu dois capítulos desta história, eu adorei e acho que vocês também vão gostar.

Resumo: Os paparazzi não são os únicos a vigiar a vida de Chloe e Oliver.

Autora: Clara

Classificação: R

Nota da Autora: Neste pequeno texto, considero que Davis não é – e nem nunca foi – Doomsday, mas apenas um ser humano normal. Considero também que Chloe e Oliver já estão juntos há um certo tempo, ele mantendo suas atividades como Arqueiro Verde e ela, como WatchTower (não que isso seja relevante para a fic).

Nota da Autora 2: Voyeurismo, para quem não sabe, é uma prática que consiste num indivíduo conseguir obter prazer através da observação de pessoas.

Tudo começou quando ele comprou aquele binóculo.

Era um modelo antigo e, por isso, estava na promoção, encontrando-se quase que esquecido numa das prateleiras mais escondidas da loja de objetos usados. Uma das lentes estava um pouco arranhada, a articulação central que unia os dois tubos, um tanto quanto endurecida, e a borracha, há muito já desgastada. Sem contar a quantidade inacreditável de poeira que havia acumulado ao longo do tempo que ficara ali exposto.

Mas, apesar de toda essa imensidão de defeitos, Davis se sentiu estranhamente atraído pelo velho objeto assim que seus olhos negros o encontraram, não resistindo ao súbito impulso de comprá-lo.

E ele realmente o comprou, oferecendo à velha vendedora uma impecável nota de um dólar pelo instrumento de observação, franzindo o cenho quando a senhora agarrou gananciosa o papel verdinho, ficando mais do que feliz em se ver livre daquela velharia que, para ela, não tinha mais valor algum.

Claro que ele não sabia o porquê de adquirir algo daquele tipo, uma vez que o paramédico nunca demonstrara interesse por nada que envolvesse binóculos, lunetas, câmeras ou qualquer coisa parecida. Entretanto, foi com uma sensação indescritível de contentamento que ele deixou a loja de quinquilharias naquele final de tarde, mal vendo a hora de chegar em casa e poder estrear sua mais nova aquisição.

O rapaz morava no centro da cidade, no sexto andar de um prédio que não era nem muito velho e nem muito novo. Um quarto, uma sala, um banheiro, uma cozinha e uma apertada área de serviço. Um apartamento pequenininho, porém bem aconchegante.

Ou, pelo menos, aconchegante o suficiente para ele, que não parecia se importar muito com o constante vazamento de água no encanamento do apartamento do andar de cima, ou com as paredes levemente mofadas, ou com a constante falta de água quente. Bem, talvez a falta de água quente o incomodasse um pouquinho só, mas não tanto quanto as festas que os vizinhos faziam todo fim de semana.

Ele realmente não gostava dos seus vizinhos, muito menos das festas.

Sentindo-se como uma criança que acabara de ganhar um brinquedo novo, correu até a janela do seu quarto e ajeitou o binóculo bem na frente do seu rosto, um sorriso largo exibindo perfeitos dentes brancos assim que o mundo pareceu se revelar como se pela primeira vez na frente dos seus olhos.

Era incrível.

Tudo estava muito, mas muito maior do que realmente era. Carros, prédios, árvores, pássaros, pessoas. Ele conseguia enxergar tudo com uma nitidez impressionante e cerca de dez vezes maior do que as coisas realmente eram.

Ele sentia que conseguia enxergar o mundo todo.

Foi quando que, de repente, algo chamou a sua atenção, e ele se sentiu obrigado a fixar o binóculo num único ponto.

Seus olhos se apertaram, sua boca secou, seu coração tamborilou descompassado. E ele permaneceu imóvel, respiração presa e pontas dos dedos já esbranquiçadas de tanto apertar os tubos do velho objeto.

E ele a viu mais uma vez.

Completamente alheia ao alto moreno que a observava a vários e vários metros de distância, a loira de bagunçados cabelos curtos passou mais uma vez pela janela entreaberta, pele pálida e firme totalmente exposta pela falta de roupa. Ele a viu sorrir um sorriso lindo, aquele corpo pequeno e delicado se virando e se entregando nos braços de um outro loiro, igualmente sem roupa, que a recebera de muito bom grado, tomando-a pela cintura e consumindo-a num beijo bastante acalorado.

Engolindo em seco, Davis sentiu um arrepio sobrenatural se espalhar pelo seu corpo todo, pelos do braço e cabelinhos da nuca se eriçando ao assistir à cena, seu peito subindo e descendo com rapidez ao ver o homem desconhecido tomar a mulher ali mesmo, sem cerimônias, um gemido gutural se formando e se alojando em sua garganta ao observar a expressão de puro gozo se espalhar pelo belo rosto dela, agora, completamente corado de prazer.

Por um momento, ele não pensou em nada. Apenas se permitiu sentir e... imaginar, ou melhor, fantasiar.

E ele queria saber o quão prazeroso seria tê-la em seus braços, o quão deleitoso seria poder possuí-la, o quão divino seria poder prová-la e prová-la, repetidas, infinitas vezes, bem como queria saber o quão sublime e suave seria poder sentir as mãos dela, finas e delicadas, dedilhando o seu corpo, tocando-o exatamente onde ele tanto necessitava ser tocado. E ele, de repente, a viu ali com ele, lábios provocantes espalhando beijos quentes por sua pele, uma voz doce sussurrando incansavelmente o seu nome, gritos explodindo em seu ouvido ao fazê-la alcançar o clímax, olhos de cor indefinida se revirando em puro êxtase.

Se ao menos um dia sua fantasia se tornasse realidade...

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DOIS